Escrever Por Escrever (blog)

Quarta-feira, 18 de fevereiro de 2004

{Quarta-feira, Fevereiro 18, 2004}


Da série: Diálogos com Deus – Deus e o ateu

– Quem é você?
– Sou seu pai, e pai de todos aqui nesta Terra?
– Adão? George Bush?
– Não meu, filho, sou Deus…
– Que deus o caramba! Não acredito nestas baboseiras!
– Não precisar acreditar. Não preciso da tua crença para existir, assim como um elefante voador cor-de-rosa não precisa que tu acredites na existência dele para existir…
– Mas… Espera aí? São possíveis elefantes voadores cor-de-rosa?
– Vou te responder da seguinte forma: para saber se algo existe ou existiu de verdade, tens que ter estado aqui desde o começo dos tempos e ao mesmo tempo em todos os lugares, pada poder presenciar tudo que existe. Do contrário nunca saberás se elefantes voadores cor-de-rosa são possíveis.

{Quarta-feira, Fevereiro 18, 2004}


Da série: Diálogos com Deus – Deus e o ateu

– Quem é você?
– Sou seu pai, e pai de todos aqui nesta Terra?
– Adão? George Bush?
– Não meu, filho, sou Deus…
– Que deus o caramba! Não acredito nestas baboseiras!
– Não precisar acreditar. Não preciso da tua crença para existir, assim como um elefante voador cor-de-rosa não precisa que tu acredites na existência dele para existir…
– Mas… Espera aí? São possíveis elefantes voadores cor-de-rosa?
– Vou te responder da seguinte forma: para saber se algo existe ou existiu de verdade, tens que ter estado aqui desde o começo dos tempos e ao mesmo tempo em todos os lugares, pada poder presenciar tudo que existe. Do contrário nunca saberás se elefantes voadores cor-de-rosa são possíveis.
– Sim, mas isto é impossível!
– Não é não! Lembre-se que só Deus é onipotente, onipresente e onisciente. Mas, como não acreditas em mim, não te dou a resposta do elefante! Tchau!

Resenha do livro Memórias de um anarquista japonês, de Osugi Sakae

A história (real) de Osugi Sakae (com uma sublinha acima do O) se passa no fim do século XIX e adentra o século XX. É um retrato do início do movimento socialista e anarquista no Japão. Sakae Osugi, como o chamaríamos no Brasil, descreve em 7 capítulos desde suas primeiras lembranças, sua infância, sua juventude como filho de militar, sua vida na Escola de Cadetes e após sua expulsão da mesma, recorda a vida e a morte de sua mãe e finaliza sua autobiografia com relatos de sua vida na prisão, descrevendo as várias passagens pelo sistema penitenciário japonês.
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O livro, escrito como um "diário de lembranças", como toda autobiografia, consegue ser bastante rico em detalhes em trechos interessantes para Sakae como por exemplo nos instantes de baderna e brigas de gangues de sua juventude; quando lembra de sua gagueira e como ela piorava com a ansiedade; das duas brincadeiras amorosas infantis e de suas "experiências sexuais individuais"(esconde entretanto detalhes e apenas insinua ter tido algumas experiências homossexuais); suas numerosas mudanças de residência em função do trablho do pai e de residências queimadas (várias!); sua desilusão com todo e qualquer tipo de aprendizado imputado, exceto o de línguas; sua facilidade para os esportes; sua indignação e as injustiças do sistema hierárquico militar; sua prazerosa paixão pela liberdade; seu adquirido gosto pela poesia e pelas leituras anarquistas; seu otimismo socialista; sua vida na prisão.
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Do ponto de vista de estética de linguagem, o livro é como esta resenha: bastante pobre, mas quando avaliamos seu valor como documento histórico e colocamos ao lado de nossa ignorância ocidental a respeito dos movimentos revolucionários japoneses, adicionamos um pouquinho de gosto de história, temos um prato cheio para degustar.
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É curioso perceber que, justamente na prisão, Osugi se torna um anarquista e isso acontece justamente porque é lá que ele tem mais tempo para estudar e para se definir politicamente.
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Alguns dos trechos mais interessantes encontramos no posfácio da obra (não estou de gozação!), onde é transcrito um diálogo entre Sakae e Goto Shimpei (ministro do interior do Japão), quando Osugi invadiu um jantar na casa desse exigindo dinheiro para uma nova revista anarquista já que o governo censurava e apreendia cada uma das revistas que ele criava. Veja só o diálogo:
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"Goto: Mas eu ouvi que o senhor tem uma boa cabeça e braços fortes. Por que então está em dificuldades?
Osugi: Porque o governo obstrui nossos negócios.
Goto: W por que o senhor vem pedir dinheiro para mim em particular?
Osugi:
Já que o governo está nos atrapalhando, eu acho que é lógico que eu venha pedir dinheiro ao governo. Acho que o senhor irá entender este meu pedido.
Goto: Ah, sim… Quanto você quer?"
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Concluindo: Sakae ganhou 300 ienes com os quais lançou uma nova revista, pagou uma dívida com uma das amantes, deu dinheiro para a esposa e para a outra amante e ainda lhe sobraram 20 ienes para uma viagem de férias!
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O mais interessante é que, depois de ler 170 páginas escritas por Osugi Sakae, passar pelas primeiras 56 com uma certa impressão de "putz, botei dinheiro fora" e acabar gostando do livro, do que mais gostei foi mesmo do posfácio, escrito por Rogério de Campos, que resume a vida de Osugi após 1910 até 1923, ano de seu assassinato pela Polícia Militar Japonesa.
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É lá que o contexto histórico é resumido e colocado em um painel onde sentimos a importância de Osugi Sakae para a sociedade japonesa da época: na sua rebeldia inclusive nas assembléias e reuniões da esquerda, onde ficava incomodando os palestrantes; em sua defesa do feminismo e do amor livre, que chocou a opinião pública e de intelectuais japoneses.
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Vemos as conseqüências do grande terremoto de 1923, que destruiu Tóquio e Yokohama, danificando 73% de todas as casas e destruindo completamente 63% delas. Avaliamos que, em decorrência do caos instalado, surgiu a oportunidade ideal para atacar líderes sindicais, comunistas, socialistas e anarquistas, ocasião em que Osugi, Ito, sua amante e um sobrinho foram assassinados pela Polícia Militar.
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Após este episódio, a repressão foi acentuada e tornada cada vez mais brutal, e acabou evoluindo para uma marcha acelerada rumo à total militarização da sociedade japonesa que culminou na Segunda Guerra Mundial.
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Osugi influenciou as revoltas estudantis dos anos 60 (no Japão!), onde novamente as idéias de combater a repressão política, econômica e sexual e de lutar contra toda forma de hierarquia estava de volta, trazendo a lembrança do "Anarquista Erótico" – como ficou conhecido.
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Para finalizar (Continue lendo.), um de seus textos, de fevereiro de 1918, chamado "Quanto a mim, prefiro o espírito":
"Eu gosto do espírito. Seja como for, geralmente detesto quando o espírito é transformado em teoria. Detesto porque nessa passagem para a teoria, ele freqüentemente se torna servil, um colaborador em harmonia com a realidade social presente. Porque isso é uma fraude. Eu odeio o que os cientistas políticos e filósofos chamam democracia e humanismo. Fico doente só de ouvi-los. Eu odeio o socialismo também. E pela mesma razão, eu odeio um pouco o anarquismo. O que eu mais gosto é a ação cega da humanidade: a explosão de espírito."

Quem chegou até aqui e leu o texto inteiro, parabéns! Pode colocar o dedo aqui e dá um alô ali nos comentários!

PS: Os "Excertos e comentários do livro Transparências da eternidade, de Rubem Alves" fico devendo para o próximo pôust, já que a notícia de que, apesar de ter sido liberado pela Aeronáutica, fui convocado ontem para servir no Exército, em Santa Maria, uma cidade a 320 km de Porto Alegre. Ainda nem sei o que vai ser do Simplicíssimo e do Escrever Por Escrever… Talvez me rebele, torne-me um insubmisso, vá preso e escrevo minhas "Memórias do Cárcere" e, ao sair, um ano após publique um livro contando minha história e ganhe milhões… Hmmm… Até que não é uma má idéia…

Outra: em função das mudanças no Blogger.br, acabei transportando todo o Escrever Por Escrever para este endereço aqui, que é o espelho do site sem as fotos… Assim que tiver um tempo dou uma guaribada por lá e arrumo a casa!

Próximos pôusts: "Da série: Diálogos com Deus – Maria vai a feira", "Sistema de cotas nas universidades brasileiras: solução ou vergonha?" e "Excertos e comentários do livro Transparências da eternidade, de Rubem Alves"

posted by RAFAEL LUIZ REINEHR 11:19 PM

Que tal conteúdo assim no seu e-mail todos os Domingos? Todas as semanas, envio um boletim criado exclusivamente para Aprendizes de Alquimia, assim como você, com conteúdo exclusivo sobre Desenvolvimento Humano, Crescimento Pessoal, Saúde, Aptidão Física, Meditação, Ayurveda, Psicologia Positiva, Ciência da Felicidade e do Hábito ou algum assunto que eu esteja estudando e passe pelo meu radar.


Quintessencial

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