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Da série: Diálogos com Deus – Maria vai a feira

– Onde tu vai Maria?

– Vou a feira. Por quê?

– É que Jesus estava te procurando. Acho que ele queria te dizer alguma coisa. Parecia importante.

– Bem, diga a ele que não pude esperar. A feira é muito longe e levo duas horas pra ir e mais duas pra voltar. À noite falo com ele. Também: esqueci de carregar meu celular. Não vai poder me ligar. Fui.

– Até mais Maria.

…poucos minutos depois

– Pai! Viste mamãe?

– Acabou de sair para ir à feira. Passei teu recado mas ela disse que não podia esperar.

– Que droga! Tinha um recado pra dar pra ela! Já sei! Vou ligar pro celular!

– Nem adianta, meu filho. Ela deixou em casa porque está sem bateria… Mas, afinal: qual era o recado tão importante que querias dar pra ela com essa urgência toda?

– É que eu vi na Internet que a cidade está toda alagada e não vai ter feira hoje…

Moral da história: quem não se comunica, se trumbica!

Excertos e comentários do livro Transparências da eternidade, de Rubem Alves (parte I de III)

Transparências da Eternidade foi publicado em sua primeira edição em 2002 pela Editora Verus. Suas palavras chaves são Literatura Brasileira e Espiritualidade.

O livro é composto de textos inéditos e várias crônicas publicadas originalmente no jornal Correio Popular de Campinas – SP.

Sendo uma bela elegia das imagens cristãs, escrito por alguém que, aparentemente, abandonou as palavras cristãs – justamente por conseguir entende-las, como Rubem mesmo explica – rapidamente identifiquei-me com o livro.

Divide-se em 5 partes, entituladas O SEM-NOME E O MISTÉRIO, OS GESTOS E AS PALAVRAS, OS MEDOS, A TRANQÜILIDADE E A BELEZA.

Extraio trechos de cada parte (sempre que estiverem entre aspas, são citações de Rubem Alves, exceto se especificado o contrário):

O Sem-nome e o mistério

Deus existe?

“É preciso, de uma vez por todas, compreender que acreditar em Deus não vale um tostão furado. Não, não fiquem bravos comigo. Fiquem bravos com o apóstolo Tiago, que deixou escrito em sua epístola sagrada: ¿Tu acreditas que há um Deus. Fazes muito bem. Os demônios também acreditam. E estremecem ao ouvir seu nome¿. Em resumo, o apóstolo está dizendo que os demônios estão melhor do que nós porque, além de acreditarem, estremecem…”

Nisto, todos havemos de concordar: de nada adianta acreditarmos em Deus se não para praticar aquilo que ora poderia ter ele ensinado. E, se praticamos aquilo que foi ensinado, se agimos conforme o bem, o verdadeiro e o justo (ou pelo menos buscamos isto, já que nem sempre podemos discriminar ao certo o verdadeiro e o justo), precisamos realmente ir à Igreja? Teremos de nos confessar? Nossa orações não podem ser substituídas por momentos de contemplação ao crepúsculo ou pela audição de uma bela música? Tudo isto é oração. Mesmo que não estejamos, sempre conscientemente ligados ao Criador, como sua criação em cada ato silencioso estamos nos comunicando verdadeiramente com Ele.

Sou agnóstico, portanto não tenho certeza absoluta da existência de Deus. Sou execrado por cristãos e por ateus. O que haveria de ser pior? Em situações de desespero, chego a orar. Meu pedido é sempre o mesmo: escolha o melhor caminho. Neste momento, estou mudando a trajetória de minha vida absolutamente contra minha vontade. É este caminho que terei de seguir. Confio em mim, confio na Natureza, nome que escolhi para meu Criador. Acredito na Unidade do Ser. Sei que sou parte de um Algo Maior, parte infinitesimal, mas que também tenho toda essência desta criação neste pequeno ser que sou. E assim vou vivendo, buscando o verdadeiro, o justo e o bom.

“…me atrevendo a utilizar a ontologia de Riobaldo, eu posso dizer que Deus tem de existir. Tem beleza demais no universo, e beleza não pode ser perdida. E Deus é esse Vazio sem fim, gamela infinita, que pelo universo vai colhendo e ajuntando toda beleza que há, garantindo que nada se perderá, dizendo que tudo o que se amou e se perdeu haverá de voltar, se repetirá de novo. Deus existe para tranqüilizar a saudade.”

Isto é poesia, digníssimo Rubem Alves. Assim, não há como não acreditar! Se Deus é poesia, acredito em Deus! Deus cá está para nos garantir a volta de tudo aquilo que perdemos e nunca gostaríamos de ter perdido! Lindo!

“Nós só vemos aquilo que somos… Os olhos são pintores: eles pintam o mundo de fora com as cores que moram dentro deles. Olho luminoso vê mundo colorido; olho de trevas trevoso vê mundo negro… assim, Deus virou vingador que administra um inferno, inimigo da vida que ordena a morte, eunuco que gera abstinência, juiz que condena, carrasco que mata, banqueiro que executa débitos, inquisidor que acende fogueiras, guerreiro que mata inimigos, igualzinho aos pintores que o pintaram.”

Neste parágrafo, uma verdadeira paulada na Igreja Católica. Desculpem os amigos afeitos a esta crença, mas é impossível apagar da história os desgraças proporcionadas pela Igreja no seu passado. A proibição do uso da camisinha é, ainda, uma lástima, nos dias de hoje.

Diz Alberto Caeiro, citado por Alves:

” Pensar em Deus é desobedecer a Deus,

Porque Deus quis que não o conhecêssemos,

Por isso se nos não mostrou…”

Assim, ganha-se a tranqüilidade de não estar a toda hora tendo de preocupar-se em pensar em Deus, na sua existência, e em teimar prestar contas a todo custo. Deus é menino, não um banqueiro!

Os gestos e as palavras

Rubem Alves descreve o batizado pagão que criou especialmente para sua neta Mariana (tenho que transcreve-lo integralmente para não deturpara o seu sentido):

” Organizei o espaço do living. Empurrei a mesa central, na direção da lareira. À cabeceira coloquei um banquinho velhíssimo ¿ ali a Mariana se assentaria. Ao lado, duas cadeiras, uma para o pai, outra para a mãe. Na ponta da mesa, uma grande vela. E a vela da Mariana, vela que a acompanhará por toda a sua vida e que deverá ser acesa em todos os seus aniversários. Ao lado de sua vela, duas velas longas, coloridas. E, espalhadas pela sala, velas de todos os tipos e cores. Na ponta da mesa, ao lado da vela da Mariana, um prato de madeira com um cacho de uvas.

Reunidos todos os convidados, começou o ritual. Foi isso que eu disse: Mariana, aqui estamos para contar para você a estória do seu nome. Tudo começou numa grande escuridão.” As luzes se apagaram enquanto, no escuro, se ouvia a flauta de Jean Pierre Rampal.

“Assim era a barriga de sua mãe, lugar escuro, tranqüilo e silencioso. Ali você viveu por nove meses. Passado esse tempo, você se cansou e disse: “Quero ver luz!” Sua mãe ouviu o seu pedido e fez o que você queria. Ela “deu à luz”. Você nasceu”.

A mãe e o pai da Mariana acenderam então a vela grande, que brilhou sozinha no meio da sala.

“Veja só o que aconteceu! Sua luz encheu a sala de alegria. Todos os rostos estão sorrindo para você. E, por causa desta alegria, cada um deles cai, também, acender a sua vela.”

Aí o padrinho e a madrinha acenderam as velas longas coloridas, e os outros todos acenderam, cada um, uma das velas espalhadas pela sala.

À chegada dos convidados, eu havia dado a cada um deles um cartãozinho, onde deveriam escrever o desejo mais profundo para a Mariana. Continuei:

“Você trouxe tanta alegria que cada um de nós escreveu, num cartãozinho, um bom desejo para você. Assim, pegue esta cestinha. Vá de um em um recolhendo os bons desejos que eles escrveram. Esses cartõeszinhos, você os vai guardar por toda a sua vida…”

E lá foi a Mariana com a cestinha, seus grandes olhos azuis, de um em um, sendo abençoada por todos.

“Todos deram para você uma coisa boa”, eu disse depois de terminado o recolhimento dos cartões. “Agora é hora de você dar a todos uma coisa boa. Você é redondinha e doce como uma uva. Esta é a razão para este cacho de uvas. E é isso que você vai fazer. Seus padrinhos vão fazer uma cadeirinha, e você, assentada na cadeirinha, vai dar a cada um deles um pedaço de você, uma uva doce e redonda…”

E assim, vagarosamente, a Mariana celebrou, sem saber, esta insólita eucaristia: “Esta uva doce e redonda é o meu corpo…”

Terminada a eucaristia, eu disse a Mariana:

“Agora, chegando ao fim, cada um de nós vai dizer o seu nome. Preste bem atenção. O nome é um só. Mas cada um vai dize-lo com uma música diferente. Porque são muitas e diferentes as formas como você é amada.”

E assim, iluminados pela luz das velas, cada um dos presentes, olhando bem dentro dos olhos da menina, ia dizendo:”Mariana”, “Mariana”, “Mariana”, “Mariana”…

Aqueles que olhavam os olhos da Mariana puderam ver que, à medida que ela ouvia o seu nome sendo repetido, eles iam se enchendo de lágrimas…

O porque das incertezas – Uma breve explicação

Bem, é triste mas é verdade…

Nesta manhã de 25 de fevereiro de 2004 estou indo rumo a meu destino não premeditado: me incorporar às Forças Armadas Brasileiras como aspirante a oficial médico, segundo tenente do Exército brasileiro.

Tal função é obrigatória por estas terras, sendo que, como estudante de Medicina, tenho o direito de solicitar adiamento até a conclusão do curso e de minhas especialidades. E assim foi, nos últimos 10 anos (6 de faculdade e 4 em 2 especializações). Apesar de voluntário ( mas nem tanto) para a Aeronáutica, fui dispensado e agora, estou sendo aproveitado pelo Exército em Santa Maria, cidade distante cerca de 3h e 40 min de carro de Porto Alegre, onde resido atualmente. Nem preciso dizer que minha vida ficará de cabeça para baixo com a função.

Tentei justificar, alocando devidamente os locais em que já me encontro inserido trabalhando ativamente há mais de 1 ano e nos quais iria começar em breve…

Canoas – Central Médica Carlos Chagas – sextas das 15 às 19h (16 pacientes por semana)

Porto Alegre – Central Médica Carlos Chagas – segundas das 15 as 19h (16 pts)

Santo Antônio da Patrulha – Clínica Cardoso Marques – terças 8 as 15h 2x mês (20 pts)

Camaquã – Clínica Radiare – terças 2 x mês – 8 as 15h (8pts)

Dois Irmãos – ULBRA – quintas 2x mês 8 as 15h (18pts)

Novo Hamburgo – Centro Clínico – quartas 17 as 21h (16 pts)

São Leopoldo – Centro Médico – quintas 16 as 20h (16 pts)

Gravataí – Hospiplan – quartas das 8 as 15h (20 pts)

Taquara – Clínica Dr. Sadi Müller a iniciar semanalmente a partir de março

Cachoeirinha – Centro Integrado Fernando Möller a iniciar, semanalmente em março

Porto Alegre – Centro Geriátrico Vitalis – 4 horas semanais, consultoria em endocrinologia para 10 moradores idosos

Porto Alegre – consultório, em horários variados (nas brechas de horário disponíveis)

…mas não houve conversa. O digníssimo Coronel Silva, Comandante da Terceira Região Militar, à qual “pertenço” disse que eu era peça rara, como especialista e eles não podiam me dispensar de forma alguma.

A esta altura, temos algumas pessoas tentando ajudar de tudo quanto é jeito, mas a situação está difícil e não sei se vai ser possível qualquer retorno ou mudança.

Assim, tentarei manter a postagem deste blógue dentro das possibilidades que me forem ofertadas. Os primeiros 45 dias, chamados de fase de adaptação, serão como aspirante e provavelmente terei de permanecer na Unidade a que fui designado pelo menos algumas noites da semana. Quando em “liberdade”, atualizarei este blógue, tentando manter uma seção chamada “Notícias do Front” para que não percam contato com esta maravilhosa aventura que só o Exército brasileiro pode me proporcionar.

PS : se demorar mais de uma semana para postar, certamente é porque estarei preso por insubmissão, desacato ou por algum motivo qualquer… Sabe como é, não dá pra brincar com estas figuras…

PS2: desejem-me sorte… Muuuuuuuita sorte!

PS3: Ah! Tem mais uma coisa: não vou entra nessa de ficar escrevendo fotos da Antonela nua na Playboy, fotos da Sandy nua, nem tampouco usarei os nomes de Anna Kournikova, Claudia Schiffer, Mônica Bellucci, Gisele Bündchen, Naomi Campbell ou outras mulheres bonitas… Também não ousarei utilizar nomes de atrizes e atores como Nicole Kidmann, Tom Cruise, Anthony Hopkins, Harrison Ford, Sean Penn, Demi Moore, Jack Nicholson, Robin Williams, Arnold Schwarzeneger ou políticos como o anterior, George W. Bush, Luis Inácio Lula da Silva, José Genoíno, Pedro Simon, José Sarney e muito menos de pensadores como Aristóteles, Platão, Sócrates, Kant, Montesquieu, Locke, Hobbes, Rousseau, Morin, Foulcault, Deleuze, Bakunin, Malinowski, Trotski, Malatesta, Kropotkin, Feyerabend, Tampouco citarei aqui escritores como Luis Fernando Veríssimo, Jostein Gaarder, Moacyr Scliar, Martha Medeiros, Domenico de Masi, Glauco Mattoso, Frank Jorge, Sidney Sheldom, Danielle Still ou usar qualquer palavra que contenha anfetaminas como femproporex, dietilpropiona, anfepramona, dualid, inibex, ou outras medicações para obesidade como mazindol, sibutramina e seus nomes comerciais sibutramina e plenty, e outros ansiolíticos ou antidepressivos como fluoxetina, buspirona, bupropiona… Imagina se eu escrevesse aqui maconha, cocaína, heroína, crack, loló, cigarro, charuto, ecstasy e o escambau que tipo de pessoas não iriam aparecer por aqui! Então, é melhor começar a selecionar meus escritos para evitar que pessoas afins a determinados grupos de interesse caiam por aqui! Seria interessante conecer pessoas que gostassem de rock e psicodelia, que escutassem Led Zeppelin, Pink Floyd, Carpenters, Black Sabbath, Iron Maiden, Beatles, Deep Purple, Earth Wind and Fire, Yes, AC DC, Kiss, Ramones e Mutantes. Aí sim isto daqui ia ficar legal… (idéia copiada pelo menos de três locais: DaniCast, Alexandre Soares Silva e Liberal Libertário Libertino – línques acima)

PS4: olhando para essa lista acima, meus resquícios perfeccionistas da infância gelam… Detesto citar listas nonsense que sejam para mim incompletas ou esteticamente feias como a acima… Mas o momento de vida justifica o pôust… Até… …breve, se tudo correr bem…

PRÓXIMOS PÔUSTS: “Da série: Diálogos com Deus – Deus e Maria no almoço”, “Excertos e comentários do livro Transparências da eternidade, de Rubem Alves (parte II de III)”, “Sistema de cotas nas universidades brasileiras: solução ou vergonha?”, “Notícias do Front”

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Rafael Reinehr é médico endocrinologista, anarquista, escritor, permacultor, ativista oikos-socio-ambiental e polímata ma non troppo.

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