Diálogos com Deus
Esta série começou da idéia de escrever um livro sobre a morte de Deus. Bem, para saber como (e de quê) Deus poderia ter morrido, resolvi fazer esta “oficina” com alguns trechos do meu personagem fictício. O livro segue, por trás das cortinas, seu gradual avançar em direção à existência. Vou chamar esta série de Diálogos com Deus. Inicialmente, a série contará com quatro personagens, Deus, o vendedor de suco, Maria (mãe de Jesus) e Jesus (filho de Deus). É claro que, durante o andar da carruagem estes personagens poderão se multiplicar, pois o céu é o limite. Qualquer semelhança com fatos da vida real será uma semelhança com fatos da vida real, já que nestes curtos diálogos, Deus apresenta-se quase como uma pessoa comum, apresentando inclusive sentimentos humanos como impaciência, irritabilidade, fome, cansaço e até mesmo dor.
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As férias de Deus (I)
Pois lá estava ele, em Copacabana, estirado em sua cadeira de praia, óculos escuros e calção de banho vermelho, chapéu de palha e bebendo água de côco. Maria havia saído para caminhar e Jesus jogava num fliperama ali perto. Àquele momento, já o haviam confundido por mais de uma vez com o Hermeto Pascoal, e para evitar explicar toda história novamente, já estava até dando autógrafos em nome do multi-instrumentista. Finda a água de côco, olhou de sobrolho para a direita e passou a admirar a bela vista que aquela praia carioca com suas “meninas do Rio” proporcionava. Já esboçava um pequeno sorriso em seus lábio e preparava um sonoro…
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As férias de Deus (II)
Copacabana já tinha sido bem aproveitada. O próximo destino era a FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty), em Paraty, cidade onde anos atrás Jesus havia encharcado seus ladrilhos históricos com o resultado depurado de litros de cerveja. Já na chegada, Maria foi correndo pegar um autógrafo de Alessandro Garcia, sentado em uma cadeira de praia na Praça da Matriz da cidade, enquanto Milton Hatoum ministrava uma oficina de Romance. Na janta, Deus encontrou Paul Auster que estava a jantar com Chico Buarque e, da mesa onde estava sentado, por pouco não teve a impressão de ouvir um sussurro da mesa onde estavam sentados Milton Ribeiro, Cláudia Antonini e Stella van…
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Deus e a seca no nordeste brasileiro
– Pai, olha só: estão reclamando que não chove há 4 anos ali no setão pernambucano. – Pois é filho – lendo o jornal – que coisa não? – É, pai. E dizem que isso só pode ser coisa sua… – É mesmo? – dobrando o jornal e passando aprestar atenção. – É. Dizem que você esqueceu deles… – Mas como! Isto é uma falácia! – com uma ira de deixar até o Diabo com inveja – Não mandei há pouco uma chuva para irrigar todo o litoral e interior brasileiros? – Sim papai! Mas é que ela começou no Rio Grande do Sul, se concentrou em São Paulo e…