DVG#003 – Preparando para a Jornada (Capítulo 2 de The Oasis Within, de Tom Morris)

Preparando para a Jornada

O propósito de um Oásis é nos dar assistência a uma jornada. Ele faz isso permitindo que descansemos, nos refresquemos em preparação para a próxima etapa da nossa jornada. Mas ele não é o ponto de chegada, por isso não devemos ficar nele, por mais atrativo que isso seja. O restante da nossa “viagem” nos aguarda. Os momentos e coisas boas que experimentamos no Oásis nos ajudam a preparar para isso.

Mas e porque não permanecer e gozar das coisas boas do Oásis por tempo indefinido?

Pois outras e maiores coisas estão à nossa espera. Se permanecermos estagnados, “atrofiamos” nossa possibilidade de evolução, e perdemos a chance de conhecer estas novas e interessantíssimas coisas. Precisamos nos divertir e trabalhar, descansar e sermos ativos. Precisamos uma pausa do trabalho, e então um retorno ao trabalho. Quando você tem o equilíbrio adequado na vida, é bom, e você se sente bem. Todo mundo se beneficia do equilíbrio.

Mas o equilíbrio não é algo estático, como uma pessoa atravessando em uma corda presa entre dois pontos pode atestar. Ele é dinâmico. É movimento. Está sempre mudando. A essência do equilíbrio é cuidado e correção, ou conhecimento e ajuste. É uma dança contínua de mudança, movendo de uma coisa para outra. É uma dança que engaja e envolve a todos nós. O homem atravessando a corda está quase sempre um pouco fora de equilíbrio, mas ele busca corrigir a si mesmo assim que seu corpo pende para um lado, a todo momento, e assim vai seguindo sobre a corda, até chegar ao outro lado.

A vida é assim: nunca estamos em perfeito balanço. Mas alcançar uma harmonia básica nesse mundo significa estar em um processo de movimento e mudança, equilibrando e reequilibrando as coisas que você faz, as ações nas quais você foca, enquanto se mantém firme naquilo que você valoriza. Lembre-se do equilibrista na corda bamba e você será lembrado do que o equilíbrio na vida requer.

Qual é o grande ensinamento que podemos tirar disso?

Talvez, possamos recuperar aquele trecho da música Turn, Turn, Turn, do The Byrds, adaptado do livro de Eclesiastes, da Bíblia cristã:

Para Tudo (Mude, Mude, Mude)

Há uma estação (Mude, Mude, Mude)

E um tempo para todo propósito, sob o céu

Um tempo para nascer, tempo de morrer

A tempo para plantar, tempo de colher

Um tempo para matar, um tempo para curar

Um tempo para rir, tempo de chorar

Para Tudo (Mude, Mude, Mude)

Há uma estação (Mude, Mude, Mude)

E um tempo para todo propósito, sob o céu

Um tempo para construir, um tempo para quebrar

Um tempo para dançar, um tempo para lamentar

Um tempo de espalhar pedras, um tempo de ajuntar pedras

Para Tudo (Mude, Mude, Mude)

Há uma estação (Mude, Mude, Mude)

E um tempo para todo propósito, sob o céu

Um tempo de amor, um tempo de ódio

Um tempo de guerra, um tempo de paz

A tempo você pode abraçar, um tempo para abster-se de abraçar

Para Tudo (Mude, Mude, Mude)

Há uma estação (Mude, Mude, Mude)

E um tempo para todo propósito, sob o céu

Um tempo para ganhar, um tempo a perder

Um tempo para rasgar, tempo para costurar

Um tempo para o amor, um tempo de ódio

Um tempo para a paz, eu juro que não é tarde demais

Assim como existe um tempo para conversar, outro para brincar, ou descansar ou trabalhar… o importante, mais uma vez, é estar presente ao momento presente. Totalmente presente. Atenção plena ao aqui e agora.

O problema é que existem pessoas que não entendem isso de jeito nenhum. Quando estão trabalhando, elas queriam estar descansando ou se divertindo. Quando estão descansando ou se divertindo, sentem-se culpadas e acreditam que deveriam estar trabalhando. Quando estão com a família, sentem falta de seus amigos. Quando estão com seus amigos, sentem falta da família. Nunca estão contentes com onde estão.

São pessoas – de qualquer idade, jovens, velhos – que nunca parecem felizes com o que quer que estejam envolvidos e sempre parecem pensar que deveriam estar fazendo algo diferente. É como se eles se sentissem culpados por não serem capazes de fazer tudo ao mesmo tempo.

Pessoas assim parecem não compreender que estamos sempre um pouco fora do equilíbrio e que isso é normal. O equilíbrio real simplesmente significa mudar e redirecionar nossa energia quando o momento certo chegar e mudar para qualquer outra coisa boa que não fizemos naquele tempo. Nós mudamos na hora em que precisamos mudar. Mas viver sempre com distração ou culpa, arrependimento ou frustração não ajuda em nada. Quando você estiver fazendo algo que vale o seu tempo – como cuidar e criar seus filhos, educar alguém, ajudar alguém com seu ofício – você deve fazer com todo seu coração. Então, quando o momento da mudança chegar, você pode fazer outra coisa, e se sentir bem de uma nova forma.

Em resumo, o que não for parte da aventura é preparação para a aventura e, no final, também é parte da aventura.

Curiosamente, estou passando por algo parecido neste exato momento. Há cerca de 2 ou 3 anos idealizei participar de uma corrida de aventura chamada Iceland Coast to Coast (https://www.ratrace.com/iceland-coast-to-coast), 392km atravessando a Islândia de norte a sul, costa a costa, a pé, de bicicleta e de caiaque, de 8 a 15 de agosto de 2026. Quando idealizei isso, não era nenhum atleta. Nem corredor. Nem ciclista acostumado a grandes distâncias. Hoje, quando corro 2 horas contínuas no final de semana (comecei a correr em outubro/novembro de 2023), sinto o esforço necessário para essa pequena distância na natureza (16 a 20km), fico impressionado com a grandiosidade do desafio que está se aproximando, inclemente, semana a semana… (escrevo estas palavras em 23 de abril de 2025). E, sim, a preparação para a aventura é, com certeza, parte da aventura. Sem ela, a Grande Aventura simplesmente não seria possível.

E trago essas percepções para a vida. 4 filhos. Trabalhando intensamente para garantir o conforto, educação e boas condições de vida a todos eles. Ao mesmo tempo, um ímpeto criativo tremendo que precisa ser contido, para que não atrapalhe “o que precisa ser feito” para que tudo não desmorone.

Em muitos momentos ainda vivo como as pessoas descritas acima – que estão em um lugar desejando estar em outro, e nem sempre estou 100% presente no aqui e no agora, apesar de todo meu treinamento e formação. Ser humano é, também, estar em “equilíbrio dinâmico” o que é, sob todos aspectos, estar em “desequilíbrio dinâmico”, por mais paradoxal que possa parecer.

(continua amanhã…)