02/05/2003 – #021 – Gimme the night, e-zine o escambau!
Às vezes me pego a pensar: porque tudo isto? Porque essa necessidade de comunicação, de criação literária que me incita a juntar combinações de palavras e deixá-las registradas no que eu chamo de Éter Universal? Em tempos tão fugidios, onde o contato pessoal acaba ficando um pouco "de lado" em relação a contatos "virtuais". Essa ânsia de escrever, já reparei, não é só minha. Proliferam-se centenas de centenas de e-zines, blogs e outras formas de expressão literária (ou visual) na Internet (que tornou essa forma de expressão acessível a qualquer um que tenha próximo de si um computador conectado à Grande Teia). Pessoas com desejo de expressar seus sentimentos e opiniões, os "Críticos da Ordem Vigente" são milhões. Alguns com maior outros com menor qualidade, todos com o mesmo intuito: serem ouvidos. Às vezes me pego a pensar: porque tudo isto? Porque essa necessidade de comunicação, de criação literária que me incita a juntar combinações de palavras e deixá-las registradas no que eu chamo de Éter Universal? Em tempos tão fugidios, onde o contato pessoal acaba ficando um pouco "de lado" em relação a contatos "virtuais". Essa ânsia de escrever, já reparei, não é só minha. Proliferam-se centenas de centenas de e-zines, blogs e outras formas de expressão literária (ou visual) na Internet (que tornou essa forma de expressão acessível a qualquer um que tenha próximo de si um computador conectado à Grande Teia). Pessoas com desejo de expressar seus sentimentos e opiniões, os "Críticos da Ordem Vigente" são milhões. Alguns com maior outros com menor qualidade, todos com o mesmo intuito: serem ouvidos. Também é por isso que existe o Simplicíssimo. Ninguém brada somente para restar o alcance da voz. Quer que sua voz seja efetivamente avaliada e correspondida. Também, essa proliferação de vozes que presenciamos deve-se, neste começo de século a algo que vimos surgir progressivamente na história moderna e que agora atinge seu ápice com a globalização: um processo contínuo de individualização ocorrido no século XX, que levou à formação de sociedades marcadas por ausência de vínculos tradicionais, afins ao espírito individualista da concorrência empresarial (como bem descreve Verlaine Freitas, em Adorno & a Arte Contemporânea, Ed. Jorge Zahar). Tal processo de individualização levou a arte a extremos como a pintura abstrata, a criação da música atonal e a negação de um narrador onisciente na literatura. Também levou, nos dias de hoje à verborréia desenfreada e desvinculada necessariamente com qualquer tipo de organização estreita, ao "jornalismo gonzo", "cardososonline" e outras formas de "anarquismo literário", como este e-zine que agora inunda sua retina e massa encefálica. Essas expressões artísticas, denotam individualmente e em grupo, um certo inconformismo com o "estado atual das coisas". Sugerem um "grito surdo, ensurdecedor" que quer se libertar e fazer acontecer algo novo, algo diferente. Novos materias, novos meios, novos ambientes, relações e conclusões, enfim, novos fins. Parafraseando ainda Verlane Freitas, " a rede de conceitos e preconceitos que usamos para entender a realidade nos desacostuma de admirar o que é diferente; a arte procura, desesperada e fugidiamente, reparar isso."; ou seja, ao contrário da racionalidade pura, que busca separar o sujeito do objeto, fazendo com que o primeiro domine o segundo, a arte, por sua vez, tenta trazer ao sujeito sua dimensão natural, corporal, desejante, não caindo na magia e na superstição mas sim na estruturação radical da obra, que é o que vemos em nossos dias com os exemplos acima. Como disse Michael Moore em seu discurso ao receber o Oscar por melhor documentário de longa-metragem na cerimônia do Oscar deste ano: "Vivemos tempos fictícios, de eleições fictícias, guerras por motivos fictícios…". É isso mesmo: vivemos em tal estado de consumismo e materialismo que deixamos de ser nós mesmos em prol de um "status" que nos é imputado diariamente pelos meios de comunicação em massa. Essas pequenas resistências podem não estar demonstrando ainda seu poder, mas o tempo dirá se todo esse trabalho artístico-cultural que vemos explodindo em todos cantos foi em vão. Ou não.
Rafael Luiz Reinehr
"Não sofremos de falta de comunicação, mas ao contrário, sofremos com todas as forças que nos obrigam a nos exprimir quando não temos grande coisa a dizer".
Gilles Deleuze, filósofo