04/04/2003 – #017 – Edição de luto
O título desta edição não poderia ser outro. Luto pelas dezenas de famílias que já perderam filhos, cônjuges, pais, primos, tios, avós, netos e o escambau nessa guerra idiota. Mas, no meu caso, refiro-me ao luto pela perda de minha avó paterna, hoje à tarde, às 14:10. Meus avós já havia perdido antes. Meu avô paterno logo após nascer, nem havia completado um ano de idade. não senti nada, pois nem entendia o mundo ainda. Meu avô materno perdi com dez anos de idade. Lembro que sofri bastante naquela ocasião, pois esse meu avô era muito presente para mim. O título desta edição não poderia ser outro. Luto pelas dezenas de famílias que já perderam filhos, cônjuges, pais, primos, tios, avós, netos e o escambau nessa guerra idiota. Mas, no meu caso, refiro-me ao luto pela perda de minha avó paterna, hoje à tarde, às 14:10. Meus avós já havia perdido antes. Meu avô paterno logo após nascer, nem havia completado um ano de idade. não senti nada, pois nem entendia o mundo ainda. Meu avô materno perdi com dez anos de idade. Lembro que sofri bastante naquela ocasião, pois esse meu avô era muito presente para mim. Foi ele quem me deu a primeira mesada. Era ele quem enxugava minha cabeça delicadamente quando saía do banho, nas vezes em que a vó não poderia fazer isso. Era ele quem me levava para a farmácia do Hospital, na qual trabalhava e me dava bloquinhos de papel que lhe eram dados pelos representantes de laboratório. Era o chefe da família. Para ele ninguém dizia não… Tudo funcionava direitinho. Foi pego pelo vício que lhe era essencial: o cigarro. Faleceu de câncer de pulmão, após muitas tentativas de tratamento e após muito sofrimento. Agora foi minha avó paterna. Pessoa vivíssima, sempre alegre e bem disposta. Trabalhava feito uma louca, que era o que lhe dava prazer. Acordava cedinho, tomava seu café e lá ia ela para a horta cuidar das verduras e legumes, do milharal e das mandiocas, onde costumávamos nos esconder e brincar de "Tá" (tipo de um esconde-esconde com tiros "falados" que inventamos). Após cuidar dos hortifrutigranjeiros ia cuidar de suas flores, suas rosas, margaridas e tantas outras que nem sei o nome. Além de ser sua diversão, também era um negócio que lhe rendia uns troquinhos. Sempre misturando aquele alemão com o "brasileiro", como dizia. Olhinhos pequenos, agora estão gigantes, vagando na imensidão desse nosso universo, fazendo parte novamente, em essência desse Todo Único e Indivisível do qual todos viemos, no qual estamos e para onde iremos. Acho que essa minha visão um pouco científica, bastante oriental e também um pouco ainda indefinida de ver o mundo me deixa tranqüilo quanto à inexorabilidade da morte (para alguns). Vejo a morte não como fim, e sim como uma religação às origens. Digo isso sinceramente. Não chorei hoje, e não porque não gostava dela ou porque sou desalmado ou insensível. Não chorei justamente pela minha compreensão de como as coisas funcionam (ou como penso que as coisas funcionam aqui neste plano. Essa é minha religião. Um misto de Burt Reynolds com Antônio Fagundes, diria o Frank Jorge… Garanto a vocês que também não vou chorar pela minha morte (pelo menos não em vida!). A vida segue. Ritos são necessários. Ainda fazem parte do cotidiano de todos nós. O rito do velório e do enterro, a necessidade de alguns de externar o sofrimento… Particularmente, pretendo ser cremado e ser enterrado em baixo de uma muda de sequóia, para que, enquanto ela crescer, crescerei dentro dela; quando ela estiver adulta, verei o mundo lá de cima. Serei o primeiro a avistar o novo dia de sol e o primeiro a sentir a gota da chuva que chega. Mesmo após a morte, segue o sonho, segue a seiva pela selva, e a semente se salva e floresce, como aliterações sem fim, que cessam. Preciso de pessoas que escrevam para tocar essa joça de Simplicíssimo. Fiz umas "estatísticas" e confirmei o que na verdade está escancarado: só eu escrevo! Talvez se eu tivesse uma ajudinha, poderia escrever mais para jornais virtuais como o ExpressOpinião , legal pra caramba. Vale conferir. Se alguém quiser, já tá dito e redito: manda ver que não tem censura! Se conhecer alguém que escreva, manda pra cá! Falei…
Rafael Luiz Reinehr