Crônica do Crítico Literário
Comece dizendo que o autor foge do hiper-realismo. Que mantém uma escrita sóbria sem concessões ao coloquialismo excessivo.
Siga afirmando que não usa linguagem chula nem escatológica, tão comum em nossos dias que está prestes a formar uma nova corrente.
Diga que é um representante legítimo do ideário contemporâneo. Se escreve textos curtos, diga que são fortes porque concisos. Se os textos são longos, diga que são fortes porque se esmeram em detalhes.
Lembre o leitor que (não) há nuances de experimentalismo.
Se for um contista, diga que os contos de Fulano de Tal invadem a realidade, recriando-a num espelho de múltiplas faces.
Em caso de romances, afirme que nos textos do autor, o leitor é convidado a participar, quer seja pela ambigüidade intencional do discurso ou pelo “subtexto tramado com perícia”, acentuando que esses são “reflexos óbvios da prática do conto” (se o autor não for conhecido por seu trabalho como contista, suprima este trecho ou insinue que o mesmo tem um manancial de contos guardados em suas gavetas).
Se possível identifique algum cacófato e o enumere.
Refira que o autor usa (evita) doses maciças de humor, privilegiando o trocadilho, a metalinguagem e a paródia.
Para concluir, diga que o autor consegue com primor evitar filigranas e pirotecnias, usando adequadamente a força intrínseca das palavras. Termine com “O escritor Fulano de Tal mostra, assim, consciência de seus instrumentos de criação, mantendo a coerência durante toda sua obra”.
Na próxima crítica, ajuste o nome da obra e do autor, inverta a ordem de aparecimento das sentenças e dê uma enfeitada aqui e acolá com passagens da obra e pronto: mais uma crítica literária fresquinha estará saindo do forno!
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Não estranhem o simples “despejar” de textos aqui no Escrever Por Escrever, com um bom tanto de impessoalidade e de diálogo com meus 5 leitores (pegando a mania do Milton Ribeiro!). Ao contrário do que possa parecer – que estou sem tempo para escrever e que estou escrevendo pouco – estou escrevendo muito, em quantidade e densidade (pelo menos é o que por ora penso). Tais escritos e leituras que estes mesmos escritos me obrigam ter – afinal quero fundamentar minhas palavras sobre solo pétreo, mesmo que para tanto esmaeça um pouco a plena originalidade, – tem tomado muito do meu tempo.
As idéias fervilham e não posso deixar que um transatlântico carregado com elas passe à minha frente e eu fique, literalmente, a “ver navios”!
Assim, o Escrever Por Escrever será, na mesma freqüência de sempre, abastecido com alguns textos de minha autoria, algumas fotos tiradas aqui e acolá e um ou outro Diálogo com Deus. É claro, sempre que um novo amigo for feito com o “Dízimo Solidário – Não Seja 100, seja 110% – Manifesto Anti-Individualista”, colocarei aqui também uma nota e as fotos.
A idéia de ING está tomando substância. Em breve, descrevo aqui com detalhes o que pode (e será) ser feito!