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O fim dos blógues – O fim de uma Era ou “Vamos colocar Fluoxetina nesta água?”

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Tenho notado um fenômeno estranho nestes últimos meses, especialmente nas últimas semanas: vários blogueiros do meu círculo de amizades tem desistido de seus blógues, alegando cansaço, esgotamento de idéias, falta de tempo…

Aperceberam-se, como acontece com todos nós, depois do ímpeto fulguroso inicial, que encanta e nos torna um apaixonado pela Blogosfera que deixamos um pouco de lado nossas vidas reais e dedicamos cada vez mais tempo a este mundo hipertextual e virtual.

Vamos nos afundando em um mar de ilusões: alguns em busca do sucesso (querem atingir o topo dos blógues mais acessados ou ter dezenas ou centenas de comentários em cada pôust); outros realizando psicoterapia aberta, chorando suas mágoas e seus problemas em público; outros ainda querem tão somente ter “um lugar para guardar e/ou mostrar seus escritos, suas idéias; outros querem revolucionar, criar seitas e seguidores, propagandear, colocar fogo…

Não importa onde nos incluamos nestas ou em outras categorias de blogueiro, todas intercambiáveis e sem limites precisos, o certo é que participamos de um fenômeno particular a este começo de milênio que nem Nostradamus havia previsto: o da globalização do conhecimento e do direito à comunicação.

Com a Internet e suas possibilidades (e me desculpem se estou repetindo o que é senso comum), qualquer um de nós pode, a cada instante e quase instantaneamente, tomar conhecimento do que acontece em virtualmente quase qualquer canto habitado do planeta e comunicar-se com aquele habitante.

Esta facilidade foi progressivamente se tornando mais e mais acessível, culminando no fim da década de 90 e de forma mais significativa no começo do presente século com aquilo que chamamos de blog, weblog ou blógue, como prefiro.

O blógue, espécie de site (ou sítio) revisitado, surgiu como uma forma gratuita e de fácil edição (significando acesso mesmo a pessoas com parco conhecimento de informática), ganhando rapidamente adeptos em todos cantos do planeta.

A rápida explosão e o surgimento de milhares de blógues novos a cada dia, por que não dizer a cada hora, constitui o “Fenômeno Blógue”, que no ano passado foi responsável pelo surgimento de mais de 5 milhões de blógues nos 8 principais provedores. Entretando, em uma pesquisa realizada pelo Perseus Institute (http://www.perseus.com) , 2,72 milhões estão praticamente abandonados, sem atualizações. 1,09 milhões foram criados e alimentados com informações apenas no dia de sua criação, 1,63 milhões foi abandonado após 126 dias de atualizações e 132.000 não foram atalizados após 1 ano ou mais. Só 13,6 mil foram retomados de pois de abandonados. Na mesma pesquisa, o Instituto verificou que os homens são mais propensos a abandorarem seus blógues (46,4% contra 40,7% das mulheres). Outro achado curioso foi o fato de que apenas 106,5 mil blógues eram atualizados pelo menos 1 vez por semana e menos de 50 mil atualizados diariamente.

Mesmo com estes dados, o número de novos blógues criados ainda supera em muito os abandonados, levando a capacidade dos provedores do serviço para o beleléu, já que os ganhos com publicidade foram ultrapassados pela rapidez de crescimento do fenômeno que teve de ter suas rédeas encurtadas.

Hoje, a maioria dos provedores, como era de se esperar, limitaram em muito o tamanho máximo dos blógues gratuitos e até mesmo do serviço pago, já que muitos previamente ofereciam hospedagem de imagens como fotografias, que rapidamente aumentam o tamanho dos arquivos hospedados.

Como tudo que sobe um dia desce (dizem…), depois da ascensão de uma grande nação inevitavelmente vem a sua queda, zênite e nadir, passamos neste momento por um período de “mortes controladas”: assim como no corpo humano, em que as células realizam sua morte de forma programada (apoptose) a fim de possibilitar o surgimento de células novas e revigoradas em seu lugar, vários blogueiros, alguns acompanhando o fenômeno desde o princípio, outros mais novatos, estão desistindo de manter seus blógues.

Será esta tendência um anúncio preliminar funesto do fim do Fenômeno? Serão apenas falsos sinais de fumaça a indicar uma expectativa errônea? Será que o aspecto individual, eminentemente depressivo e cinzento de alguns blogueiros, para os quais o eletrochoque seria a solução definitiva o responsável pelo que estávamos a discutir? Ou será que ler o livro de Haim Grumspum sobre resiliência os manteria na ativa?

Creio eu que muita água ainda vai rolar até que que a solução definitiva a esta questão se fixe. De qualquer forma, as respostas não serei eu a dar…

Rafael Reinehr é médico endocrinologista, anarquista, escritor, permacultor, ativista oikos-socio-ambiental e polímata ma non troppo.

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