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São Paulo: 450 anos

Ao comemorarmos os 100 anos de algo ou alguém, nos referimos ao seu centenário, assim como ao completarmos 150 anos temos o sesquicentenário. Com 200 anos, comemoramos o bicentenário. Mas e com 450 anos?

Creio que na Língua Portuguesa brasileira não há denominação para utilizar nestas ocasiões. Seria quadrisesquicentenário (ou isso seria referente a quatro períodos de 150 anos, e conseqüentemente 600 anos? Epa, então que tal trisesquicentenário???)?

É possível que em Portugal, país definitivamente mais antigo e mão (pai?) de nossa língua, exista nomenclatura adequada para nos referirmos adequadamente aos 450 anos da cidade de São Paulo.

Digníssimos amigos portugueses, que a esta hora significam 5,6% dos acessos ao Escrever Por Escrever, se puderem, me ajudem!

A propósito, a estrela deste pôust é o último! Não deixem de ler, por favor!

Sugestão de visita 001

A partir de hoje começarei, ocasionalmente, a sugerir alguns sítios ou blógues de grande interesse pelo seu conteúdo artístico, literário, político, antropológico, enfim, de alguma humanidade qualquer.

O primeiro sítio que indico é o Brinquedo de Palavras editado pelo grande webdesigner (vê-se isso pelo site) Pipol.

No site, que para ser visualizado é necessário possuir Flash MX instalado, encontramos trechos literários que demonstram a absurda sensibilidade do artista entremeados de imagens linda e brilhantemente conectadas, fazendo do site um verdadeiro teatro digital.

Confiram! Ah! E não deixem de ler o último pôust!

Serviço Militar Obrigatório: uma indecência?

Indecência Militar

(Gabriel O Pensador)

.

Na porta do local do alistamento militar

Esperando pela hora de entrar

de saco cheio, estava eu lá (que paciência!)

Sem nenhuma mulher pra agarrrar e nem um som pra escutar

E um monte de marmanjos do meu lado eu vi

Então pensei “Pô o que que eu tô fazendo aqui?”

Pergunta sem resposta, e raiva batendo

Foi assim que eu fiz um rap pra passar o tempo

Serviço militar obrigatório é uma indecencia

Um ano sem mulher batendo continencia

Escravidão numa democracia

É uma incoerência

Um ano sem mulher batendo continencia

Serviço militar obrigatório é uma indecencia

Um ano sem mulher batendo continencia

Um ano sem mulher só ralando

E o salário?

Não leve a mal mas isso é coisa pra otário

Alguns podem até gostar da brincadeira

Mas o serviço só é bom pra quem quer seguir carreira militar

Mas rapá, pro Pensador não dá!

Servindo o exército, marinha, aeronáutica ou qualquer porra dessas

Não interessa eu ia ser um infeliz

Ia ficar revoltado como eu nunca quis

Servindo quem montou a ditadura aqui no meu país

Usando farda e lavando o chão

Sem reclama de nada pra não ser jogado na prisão

Hum mas que situação! Então

Batendo continencia e fazendo flexão

Para os caras que prenderam meu pai

E mataram tantos outros institucionalizando a repressão

Não! Agora acorda e concorda com esse refrão!

E porque não?

Nas mãos dos militares muito jovem já morreu

Não quero ser soldado! Quem manda em mim sou eu!

Esse é o defeito da nossa sociedade

Um ano da minha vida não pode ser gasto assim

Escravizado por quem nunca fez nada de bom por mim

Essa contradição me repudia

Serviço obrigatório não combina com democracia

A porta abre e todos entram

Tô torcendo pra sobrar enquanto isso dá vontade de cantar

Olha aí rapaz, como você fala das nossas instituições democráticas!

Instituições o que?

Ih! Eu acho que eu tô doidão, eu ouvi “democráticas”!

Ah tá…

Decidi escrever sobre este tema pois nos dois últimos dias passei pela experiência de uma seleção para a Aeronáutica, no V COMAR (Comando Regional da Aeronáutica), em Canoas, Rio Grande do Sul.

Depois de 10 anos que incluíram 6 anos de graduação em Medicina, 2 anos de especialização em Medicina Interna e 2 anos de especialização em Endocrinologia, sempre solicitando adiamento para realização de minha formação profissional, finalmente chegou a hora de “prestar contas à Pátria Amada Brasil”.

A obrigatoriedade do Serviço Militar não é exclusividade do Brasil, onde somente a população masculina presta necessariamente 1 ano de trabalhos para as forças armadas (em alguns países chega a dois anos a obigatoriedade).

A questão que se impõe paira sobre esta mesma obrigatoriedade: trabalho comunitário instituído ou indecência restritora de liberdade?

Existem bons argumentos que defendem cada ponto de vista.

Na defesa da obrigatoriedade, surgem vozes que reproduzem as necessidades da sociedade brasileira (defesa das fronteiras, proteção em caso de conflitos civis, acesso da saúde em áreas remotas, etc.), a responsabilidade que o recruta adquire ao servir (pfúú!) e, no caso dos formandos de Medicina, Farmácia, Odontologia e Medicina Veterinária, o retorno necessário a ser dado por esta pequena parcela da população que concluiu o terceiro grau graças ao financiamento ou subsídio do Estado.

Do lado oposto, gritam as vozes da Revolução Francesa e também interpretações radicais (quem sabe deturpadas) de Hannah Arendt, na defesa da liberdade do indivíduo enquanto membro de uma coletividade. Sugerem que deveria inexistir a obrigatoriedade de um serviço militar pois o mesmo seria inclusive uma contradição aos princípios liberais expressos na própria Constituição brasileira.

No caso de profissionais da área da saúde, a grande maioria que se apresenta especificamente à Aeronáutica é composta de muitos odontologistas e farmacêuticos voluntários, principalmente do sexo feminino, sendo menor a freqüência de voluntários na área médica.

Além do mais, conhecendo um pouco da estrutura e do funcionamento das forças armadas e sua relação com a comunidade, afirmo que seria praticamente impossível reduzir de pronto a quantidade de seu efetivo.

Então, deixa assim e vamos parar de falar desse assunto, chato pra caramba! Além do mais, você, raro cidadão que chegou até este ponto na leitura deve estar se perguntando: para que serve o que acabei de ler aí em cima… Ta bom, concordo! Este foi um legítimo exercício de escrever por escrever, que não acrescentou nada a ninguém… Deixa eu ir pro banho que ainda estou com a roupa com que fiz o teste físico lá na aeronáutica hoje…

Leia o próximo pôust!

Esquerda, Direitos e Devires

Pouco mais de um ano depois da mais aclamada vitória democrática da esquerda na história política recente da América Latina, cabe aqui uma discussão acerca da definição e da nova posição ocupada por esta esquerda.

Em rodas de amigos ou mesmo em discussões acadêmicas, muitos usualmente dizem que esquerda no poder deixa de ser esquerda para tornar-se direita e que, a partir de então, quem se tornaria esquerda seria a oposição (previamente no poder).

Teimo em discordar e para tanto buscarei basear minha argumentação em dois grandes amigos do pensamento contemporâneo: Gilles Deleuze e Félix Guattari. Juntos, os dois pensadores escreveram obras clássicas como “Mil Platôs” e “O Anti-Édipo. Capitalismo e Esquizofrenia

De acordo com seu pensamento – e aqui me forço a uma interpretação pessoal – podemos chamar de ¿esquerda¿ todas aquelas forças oriundas das minorias negligenciadas pela ordem instituída que buscam, através da produção incessante de singularidades, encontrar seu lugar.

É na perene batalha entre instituinte e instituído que encontramos a verdadeira força (pulsão) da esquerda.

Guattari e Deleuze chamam de devires os constantes movimentos instituintes destas minorias, criando alguns devires que aqui posso exemplificar, como o devir homossexual, o devir negro, o devir mulher, o devir molecular só para citar alguns. Em nosso contexto sócio-econômico-político poderia eu acrescentar o devir sem-terra, o devir aposentado, o devir pequena empresa e o devir paciente na fila do SUS (embora todos exceto o primeiro dos últimos citados com pequeno poder de gerar tensão suficiente para incomodar o instituído).

Na busca de seu espaço, estes devires são geradores de tensão na superfície do estabelecido, naquilo que chamam de “Capitalismo Mundial Integrado“, representado pelas instituições oficiais dos Estados, Escola, Igreja e meios de comunicação de massa, entre outros.

No momento em que a minoria é açambarcada pelo meio instituído – ou se integra a ele voluntariamente – esta deixa de produzir subjetividade e se mescla à grande massa sem individualidade e normalizada pela ordem vigente.

Aqui, podemos ver que o governo que temos hoje em nosso país certamente deixou de ser esquerda, pois aceitou tacitamente algumas das ferramentas da organização instituída a que se filiou mas, ao mesmo tempo, não pode ser considerado direita (permanecendo parcialmente esquerda, então), pois germinam ainda, dentro de si, forças que buscam modificar o estabelecido, gerar o novo.

Recentes eventos, como a fissão dentro do próprio Partido dos Trabalhadores mostram bem essa faceta a qual me referi acima – e da qual só foi visualizada porção correspondente à ponta de um iceberg.

Nessa guerra de titãs entre a simbiose hoje estabelecida em nosso Estado e as cada vez mais gritantes “forças desejantes” das minorias, percalços são previsíveis mas a busca dos direitos – ou como preferem Deleuze e Guattari, do espaço para exercer a singularidade – não deve cessar, pois essa mesma é a essência da realidade.

Apesar de vozes da ultra-direita pós-diretas já tentarem se amplificar, o bom-senso e juízo crítico da direita moderada foi capaz de ouvir o clamor popular, a grita desta bastante suficiente minoria – não em número mas em voz ativa -, o que possibilitou grandes mudanças no contexto sócio-econômico, principalmente no que diz respeito às reformas previdenciária e tributária.

Finalmente, a forma que hoje se apresenta constituído, o governo brasileiro, outrora denominado ¿esquerda¿, encontra-se provisoriamente em um limbo cuja melhor definição seria “esquerda-direita”, ou, porquê não, “centro”, já que do centro é o melhor caminho para chegar às duas extremidades e seguir realizando o governo de coalizão pelo qual se caracteriza a atual administração. Há que se concordar, indubitavelmente, que ambas correntes – conciliadora e revolucionária – atuam simultaneamente na direção do país.

Quem sabe a escolha desse caminho – o caminho do meio do taoísmo chinês – não seja, enfim, aquele que nos levará a dias melhores em um futuro breve?

* imagem inspirada na capa do livro Sociologia e Antropologia, de Marcel Mauss, publicado originalmente em 1950 e reeditado em português em 2003 pela Editora Cosac & Naify

Rafael Reinehr é médico endocrinologista, anarquista, escritor, permacultor, ativista oikos-socio-ambiental e polímata ma non troppo.

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