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Ayrton Senna, o banal

O Brasil é ruim. Poderia ser pior.

Um “diz que me disse” disse que Frank Williams dissera recentemente que Ayrton Senna sonhava em se eleger presidente da República.

Mesmo sem reler velhas entrevistas de Senna, cheguei à conclusão de que a idéia me pareceu bastante boa.

Ayrton era uma pessoa com uma inteligência espacial bastante boa (vide seu sucesso nas pistas) assim como mantinha uma boa nota no que diz respeito a seus relacionamentos interpessoais (Xuxa, Adriane Galisteu). Parecia ser bom em matemática (acumulou milhões) e também era um cara espiritualizado.

Em vida, preocupou-se com a caridade e, depois de sua morte, sua família criou o Instituto Ayrton Senna, o que certamente lhe faria (fez? faz?) feliz.

Na forma de governo mais duradoura que se tem conhecimento, o da antiga China Imperial, os governadores das províncias eram escolhidos baseados em múltiplas provas que levavam em conta o conhecimento político regional, a argumentação lógica, o arco-e-flecha e, pasmem, a habilidade em música, em tocar um instrumento musical. Quem se saísse melhor na média de todos estes quesitos era considerado o melhor homem a governar determinada província.

Creio que, retirando-se o preconceito de gênero, esta seria ainda hoje uma forma válida para escolher um bom governante. Deveríamos encontrar uma pessoa que harmoniosamente equilibrasse bons níveis de inteligência lógico-matemática, pictórica, musical, intrapessoal, interpessoal, espacial, lingüística, corporal-cinestésica, naturalista e espiritual (aproveitando a Teoria das Inteligências Múltiplas de Howard Gardner) e, ao invés de um sufrágio universal “democrático” enviesado pela “distorção de informação” (J. Habermas) a que são expostos os movimentadores deste processo (nós, o povo) creio que uma espécie de “concurso público” para todos cargos executivos e legislativos seria uma saída alternativa ao péssimo sistema que hoje temos para escolher as incógnitas que irão nos governar.

Que tal, você aí que está me lendo agora, indo a aulas de balé, lendo “A Inteligência Emocional” do David Goleman e a revista Vida Simples, voltando a jogar bola e correr, treinando tricô, estudando teatro, preocupando-se com o meio-ambiente e com a busca de respostas aos problemas ecológicos que hoje vivemos, etc., tudo isso para se preparar para um novo concurso daqui a 4 ou 5 anos para conseguir um cargo público com uma boa renda mensal (que até há bem pouco tempo tinha seus vencimentos aumentados por ocupantes do cargo que agora você pleiteia)? Chance para todos! Existiriam cursos para formar “seres humanos completos” (?)! Durante toda sua vida, a cada 4 a 5 anos um novo concurso e uma nova chance (e você fica melhor em boa parte dos quesitos à medida em que envelhece e ganha experiência! – talvez não no cinestésico-corporal e no espacial) de ajudar seu país a melhorar!

Li em um artigo da Veja que a Ediouro publicou um panfleto de George Bernard Shaw entitulado “Socialismo para Milionários”. Nele, o dramaturgo propõe que os milionários não devem doar seu dinheiro à caridade, pois o mesmo produz um efeito maléfico ao tirar do governo a obrigação de cumprir sua função.

Ao mesmo tempo em que isto parece ser verdade, me parece que, somente por esta justificativa (desobrigar o governo a cumprir sua função), não deveríamos nos abster de um ato legítimo – auxiliar a outrem a subir nos degraus da vida.

Caro leitor milionário, de classe “média” ou pobre de “marré de si”, escute esta recomendação: chega de dar esmolas. Dê tudo de si, sempre e em todos os momentos e circunstâncias.

Não pense apenas em ganhar dinheiro.

Rafael Reinehr é médico endocrinologista, anarquista, escritor, permacultor, ativista oikos-socio-ambiental e polímata ma non troppo.

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