Doação de Tecidos e Órgãos: o que falta para que dê certo?
(este post faz parte do projeto Nossa Opinião, em que um grupo de blogueiros de diferentes áreas e atividades desfere sua opinião acerca de um assunto comum, quinzenalmente. Leia minha opinião aqui e depois vá lá para ver a opinião dos confrades.)
Hoje somos no Brasil cerca de 180 milhões de habitantes, alguns orgulhosos de cá viverem, outros loucos para pular do barco e a maioria indiferentes ao local de morada e a tudo o mais. Com freqüência ouve-se dizer que o brasileiro é um povo que só quer cerveja, futebol e mulher pelada. Apesar de entender a metáfora, posso afirmar com certeza que minha mulher não se encaixa nesse paradigma, tão pouco quanto um bom número de pessoas que conheço.
O que se quer dizer – e neste ponto concordo – é que o brasileiro médio importa-se tanto mais com futilidades, a busca do prazer instantâneo quer seja na alimentação, ideal estético, produtos de consumo material ou intelectual (televisão) que já venham mastigados e digeridos – e já está tão disciplinado para isso – que a mudança de paradigma, para algo que lhe determine realizar um esforço ativo lhe parece estressante demais.
Esta mesma perspectiva, que agora aplico ao esforço necessário para comunicar a família de que se é um doador de órgão, para envolver os colegas de trabalho na percepção da importância de uma campanha assim, mesmo que seja organizando 1 hora de 1 semana de 1 mês por ano para debater o assunto e atualizá-lo, quer seja em sua empresa, agência de publicidade, restaurante, escola, posto de gasolina, consultório médico, dentário, psicológico…
Quando falamos de engajamento social, geralmente paramos numa etapa anterior à efetiva: interrompemos nosso movimento na afinidade: “Ei, legal! Alguém precisava mesmo tocar nesse assunto”. A etapa seguinte: “Vamos entrar em contato com o Ministério da Saúde e solicitar que eles enviem alguns folders ou banners para cá para que possamos organizar, daqui a alguns dias uma mobilização em torno do assunto?” não chega a ser desvelada. Poucos são os que, sensibilizados com a campanha chegam em casa e dizem: “Pai, mãe (ou cônjuge), vocês sabem que sou doador de órgãos e tecidos, não sabem? Se, por acaso, eu estiver em morte encefálica, gostaria de doar meus órgãos, vocês compreendem e aceitam isso?”
No Brasil, 28,5% das famílias com potenciais doadores por morte encefálica são contrários à doação, conforme o Sistema Nacional de Transplantes (SNT). Na Espanha, país considerado o país mais avançado em relação a transplante de órgãos a recusa é de 15%.
Apesar disso, parece que o motivo principal pela baixa na doação de órgãos neste ano diz respeito à falta de notificação do SNT pelas unidades de saúde de emergência e hospitais quando encontram um caso de morte encefálica. Apesar de obrigatória no Brasil, com a sobrecarga dos pronto-socorros e a falta de leitos em UTIs, pacientes que entram em morte encefálica não possuem condições de serem mantidos com ventilação e circulação ativas até que a equipe do SNT possa remover os órgãos.
Conforme dados do Ministério da Saúde, o Brasil só é suplantado pela Espanha no número de transplantes realizados por um sistema público de saúde. Nos últimos 6 anos, foram realizados 87.444 transplantes pelo SUS, mas ainda encontram-se na fila de espera 71.152 pacientes. Veja quais os órgãos que estão faltando:
Coração |
335 |
Córnea |
26.807 |
Fígado |
7.036 |
Pâncreas |
167 |
Pulmão |
135 |
Rim |
34.098 |
Rim e Pâncreas conjugados (duplo) |
511 |
Medula Óssea |
2.063 |
Voltando ao começo do nosso artigo, se mais e mais empresas – relacionadas a futebol, cerveja e sexo, mas não restritas a essas – participassem da Campanha para Doação de Tecidos e Órgãos, como estão fazendo a dupla Gre-Nal em conjunto com a ONG Via Vida, o painel da doação no Brasil teria uma mudança significativa em um espaço tão curto quanto 5 anos.
As fotos das campanhas utilizadas neste artigo foram extraídas do site da ADOTE – Aliança Brasileira pela Doação de Órgãos e Tecidos. Vale a visita: além das imagens aqui reproduzidas também encontras uma série de campanhas em vídeo para ajudar a divulgar esta importante ação.
Se, você chegou aqui depois de ler este text, é porque certamente seu coração tem algo de bom a dizer para o mundo. Então não se cale. Não se contente com o silêncio indiferente de seus vizinhos. Como dizia Ghandi, "Seja a mudança que você quer ver no mundo." Se precisar de ajuda e quiser organizar algumas ações em conjunto, fique à vontade para entrar em contato comigo. Sempre terei um braço e um sopro para lhe ajudar.
Curiosidade: É importante perceber que cada órgão possui um tempo máximo de viabilidade após a retirada do doador:
Córneas: devem ser transplantadas em até sete dias.
Coração: tem que ser transplantado em 4 horas.
Pulmões: tem que ser transplantados em 4 horas.
Rins: devem ser transplantados entre 24 e 48 horas.
Pâncreas: tem de ser transplantado em 12 horas.
Fígado: tem de ser transplantado em 12 horas.
Ossos: podem ser transplantados em até seis meses.
7 Comentários
larissa
😆 gostei mais nao vou doar meus orgaos pra ninguem nao tem tenho coraje
katerine soares
Nossa , cada um de nós sabemos que podemos, concerteza ajudar alguem. o apostolo joão escreveu:”se alguem fizer a declaração:” EU AMO A DEUS, e ainda assim odiar o seu irmaõ, é mentiroso. pois, quem não ama o seu irmão, aquem tem visto,não pode estar amando a DEUS,a quem não tem visto” fazer o bem ao proximo tambem é fazer o bem a jeóva(1joão4:20,21). bjs.
Regina
Um grupo de amigos de Cora Vieira, cuja vida depende de um transplante de fígado, pede a sua ajuda para chamar a atenção da mídia para a importância da captação de órgãos (sem o que a doação não se concretiza) e pedir aos órgãos públicos uma gestão mais ágil e eficiente do sistema.
Cora é portadora de uma doença grave e rara chamada Cirrose Biliar Primária, que reapareceu depois de 8 anos do primeiro transplante. Além de um cansaço extremo e icterícia, tem problemas nos sistemas digestivo e circulatório, ascite (água na barriga), varizes do esôfago (veias que estouram e causam hemorragias internas), encefalopatia hepática e, por estar muito magra, sem gordura e músculos, desenvolveu uma hérnia de disco. Vivia do seu trabalho como psicanalista, precisou parar de trabalhar em abril/07 porque os sintomas físicos foram se avolumando.
Cora está muito debilitada e pode morrer se a situação da fila de espera por órgãos para transplante, sob a responsabilidade da Central de Transplantes do Estado do Rio, não melhorar nos próximos 60/90 dias, tanto na quantidade de doações quanto na eficiência das captações.
Apesar da doação de órgãos não ser ainda uma prática habitual na nossa sociedade, fica claro que há também um problema na captação e coordenação do sistema, a cargo da Secretaria de Saúde do Estado do Rio de Janeiro. Vários já morreram na fila e outros tantos, poderão perder a vida se o Governo do Estado do Rio de Janeiro não tomar providências urgentes para retomar o ritmo das cirurgias e fazer avançar fila de espera.
No último semestre de 2006, o índice de transplantes no Estado foi de 10 cirurgias / milhão de habitantes. De fevereiro a maio de 2007, apenas 16 transplantes de fígado foram realizados no Estado, diminuindo o índice para 4 cirurgias/milhão de habitantes.
Em julho de 2007, a família de uma mulher que teve morte cerebral na Clínica São Vicente levou 3 dias para conseguir doar seus órgãos.
AJUDE
ENVIANDO O MAIOR NUMERO POSSÍVEL DE E-MAILS PARA QUE ESTAS INFORMAÇÕES ENTREM NA PAUTA DA MÍDIA (algumas sugestões – basta copiar e colar): cartas@oglobo.com.br; ancelmo@oglobo.com.br; cartas@jb.com.br; cartas@odia.com.br; cartas@extra.inf.br; veja@abril.com.br; cartas@istoe.com.br; epoca@edglobo.com.br
REPASSANDO ESTA MENSAGEM PARA SUA LISTA DE AMIGOS
PEDINDO AJUDA AOS AMIGOS QUE PUDEREM INTERCEDER JUNTO AO PODER PÚBLICO
Se precisar de mais esclarecimentos, entre em contato através e-mail: amigoscora@gmail.com. ou acesse http://www.corinha.blogger.com.br Na realidade, ajudando a Cora, voces estarão ajudando outras centenas de pessoas na mesma situação. Nós, filhos, família e amigos da Cora agradecemos desde já a sua solidariedade
Medicast
Nossas sinceras desculpas, em momento algum queríamos plagiar o seu post, mas estamos começando nesse mundo blogueiro agora, se vc quiser retiramos o conteúdo integral , mas é pq temos uma coluna no blog q publicamos o melhor post que achamos na internet aquele dia, qualquer coisa é só falar!
obrigado!
Medicast
Excelente texto , tomei a liberdade de colcoar lá no nosso blog(que a partir de quinta feira voltou e vai continuar por muito tempo, assim espero.
Gostei muito do seu blog também, nem só d humor e virais vive a internet, é necessário também conteúdo!!
VLW!
Veridiana Serpa
eu cheguei até o fim e não me calei, já até divulguei … excelente iniciativa… muito bom ter a oportunidade de conhecer pessoas como você… bjs
marilia
doação
Rafael, que post forte. estou um pouco chocada. sou cobvarde e preconceituosa. egosita. preciso levar uns tapas de vez em quando.
acabei de levar.
mas não sei se tenho coragem / ação (olha que coisa maluca, eu que vivo me cortando…) de doar…
pô cara, pesou…