Literatura

  • Poesia

    Despertar

    Quando as cores somem Desaparecem como se nunca houvessem existido Quando as luzes brilham Mas não servem mais ao seu propósito O vazio preenche todos espaços Toma conta de tudo que resta De tudo que sobrou, dos escombros Agora em tons de cinza, escuro Já não se ouvem passos, nem vozes Somente um grito, surdo, ensurdecedor Que me faz fechar os olhos E ver coisas até então sem sentido A distância agora consigo medir Ela existe, e assusta Tenho medo de não mais voltar De não escolher o caminho certo Sinto cheiro de café E sinto necessidade de acordar Deste sonho, que é uma vida E viver, esta vida –…

  • Experimentalismo

    Crônica do Crítico Literário

    Comece dizendo que o autor foge do hiper-realismo. Que mantém uma escrita sóbria sem concessões ao coloquialismo excessivo. Siga afirmando que não usa linguagem chula nem escatológica, tão comum em nossos dias que está prestes a formar uma nova corrente. Diga que é um representante legítimo do ideário contemporâneo. Se escreve textos curtos, diga que são fortes porque concisos. Se os textos são longos, diga que são fortes porque se esmeram em detalhes. Lembre o leitor que (não) há nuances de experimentalismo. Se for um contista, diga que os contos de Fulano de Tal invadem a realidade, recriando-a num espelho de múltiplas faces. Em caso de romances, afirme que nos…

  • Diálogos com Deus

    Deus e a seca no nordeste brasileiro

    – Pai, olha só: estão reclamando que não chove há 4 anos ali no setão pernambucano. – Pois é filho – lendo o jornal – que coisa não? – É, pai. E dizem que isso só pode ser coisa sua… – É mesmo? – dobrando o jornal e passando aprestar atenção. – É. Dizem que você esqueceu deles… – Mas como! Isto é uma falácia! – com uma ira de deixar até o Diabo com inveja – Não mandei há pouco uma chuva para irrigar todo o litoral e interior brasileiros? – Sim papai! Mas é que ela começou no Rio Grande do Sul, se concentrou em São Paulo e…