A Maleta
Um argumento de Rafael Luiz Reinehr
(a ser transformado em roteiro artístico, técnico e curta-metragem)
Gabriel – endividado, recém-desempregado, prestes a perder Patrícia, sua esposa, procurando com urgência uma forma de conseguir dinheiro; desesperado.
Patrícia – esposa de Gabriel; cansada da vida de dona-de-casa e de pobreza; sonhadora, ansiosa.
Estranho – pessoa enigmática, sinistra, sombria; traz consigo uma maleta misteriosa que decidirá o futuro da vida de Gabriel.
Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil. Dias de hoje.
Gabriel nunca havia estado tão fundo no poço da vida: as dívidas pareciam não ter fim, sua mulher não agüentava a vida que levava, estava prestes a acabar com o casamento e, para seu total desespero, havia acabado de perder o emprego que garantia seu mísero sustento.
Via-se completamente sem saídas até que algo inesperado aconteceu. Estava em um bar bebendo um café enquanto pensava como ia contar à sua esposa sobre a perda do emprego quando lhe aparece um estranho homem que lhe faz uma curiosa oferta: uma maleta que, supostamente, conteria 1 milhão de reais e que, para que Gabriel pudesse pegar o dinheiro, bastaria apertar um botão e abrir a maleta.
Gabriel achou a oferta muito esquisita. Afinal, porque alguém andaria por aí com uma maleta com um milhão de reais e a ofereceria a um completo desconhecido? O estranho homem disse, como que lendo o pensamento de Gabriel, que essa não era a pergunta certa. Bastava saber que para que o dinheiro fosse de Gabriel bastaria apertar o botão vermelho e que, no exato momento em que Gabriel abrisse a maleta, alguma pessoa no mundo iria morrer. Outra coisa: somente ele seria capaz de abrir a maleta.
A primeira reação de Gabriel foi cair na gargalhada, acreditando que tudo não passasse de uma pegadinha de TV. Entretanto, o estranho disse que não havia brincadeira alguma, a decisão seria toda de Gabriel; e foi embora, deixando Gabriel com seus pensamentos.
Gabriel não pode se decidir na hora. Resolveu ir para casa contar a história para sua mulher. Patrícia foi logo pedindo que abrisse a maleta, já que essa história de que alguém fosse morrer era pura idiotice, e o máximo que iria acontecer era darem de cara com uma maleta vazia. Patrícia tenta apertar o botão e forçar a abertura da maleta mas não consegue.
Gabriel, impressionado com a figura do estranho, ainda tinha dúvidas sobre o caminho a seguir. E se realmente morresse alguém no mundo? E se essa pessoa fosse alguém de sua família? E se fosse Patrícia, sua amada? E se fosse ele mesmo?
Passou a noite inteira insone, tentando decidir o que fazer. Pela manhã, saiu para procurar emprego e, no mesmo bar onde novamente parou para um café encontrou o estranho homem que havia lhe dado a maleta. Resolveu esclarecer as dúvidas que tinha. O estranho lhe informou que, caso Gabriel abrisse a maleta não seria ele, nem sua esposa nem ninguém conhecido a partir desta para melhor, mas sim um completo estranho alhures no mundo.
Depois de muito pensar, imaginando-se responsável pela morte de alguém, mesmo desconhecido, lembrou-se da terrível situação financeira e amorosa em que se encontrava e tomou uma decisão.
Voltou para casa, sentou-se na mesa da cozinha, fixou atentamente a maleta, revisitou seus pensamentos e agiu: apertou lentamente o botão e, bem devagar, abriu a maleta que, para sua surpresa, mostrava a fortuna que o estranho havia prometido.
Não conteve-se de felicidade:começou a pegar todo o dinheiro da maleta e enfiou nos bolsos do casaco. Ao terminar, fechou a maleta e, para sua surpresa, de trás dela surgiu a figura do estranho, em pé, encostado na pia de sua cozinha.
-Ei, o que você está fazendo aqui? – perguntou Gabriel.
O estranho respondeu que viera pegar o que lhe era de direito.
– Mas você me disse que se abrisse a maleta, o milhão de reais era meu!
– Sim – respondeu o estranho – o dinheiro é seu, mas a maleta levo comigo.
– Ah, ta! Pode levar! Não preciso mais dela. Compro mil dessas se quiser! E agora, o que você vai fazer com a maleta?
– Vou fazer o que tenho feito há mais de 200 anos: encher a maleta com uma nova fortuna e viajar para um local distante daqui. Vou oferecer esta maleta a um desconhecido, assim como fiz com você, e este desconhecido terá a mesma oportunidade que dei a você e a milhares de outros antes de você. Só que, desta vez, se o desconhecido decidir apertar o botão e abrir a maleta, quem morre é você.
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Rafael Luiz Reinehr
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3 Comentários
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Rafael Reinehr
Milton: sei exatamente como te sentes. Passei os anos de 2001 a 2004 tratando de “organizar minha vida para começar a vivê-la”, o que finalmente havia conseguido em fevereiro deste ano quando, não mais que de repente (desculpe pelo lugar comum), o Absurdo: convocação para o Serviço Militar Obrigatório.
Minha vida caiu. Foi como ter ambas pernas amputadas em um acidente automobilístico. Aqueles que dizem “Mas é só um ano…” não sabem a grande besteira que falam.
Talvez sejam daquelas pessoas insensíveis em que a vida passa à frente dos olhos e os sentidos mais simples como o paladar, odores e intuição nada consegue lhes dizer.
Começo novamente amigo meu, e te estimulo fortemente a realmente mudar e encontrar teu ponto de equilíbrio. Torço para que chegues lá o quanto antes.
Um forte e fraterno amplexo e um algodão doce do amigo Rafael Reinehr.
Milton
Há um conto de Stevenson totalmente diferente do teu, é claro, mas que termina de forma parecida. O algoz, feliz, torna-se repentinamente vítima. Não pense que estou te acusando de plágio!!!!, teu conto tem luz própria e é absolutamente original. Gostei muitíssimo, daí, a analogia com um clássico.
Aquele post que escrevi e que tu recém comentaste nasceu realmente do desespero. Tenho que mudar minha vida e já. Este negócio de assumir as minhas broncas, as dos outros, de manter blog, coluna esportiva, de aceitar vários convites, de achar que tenho tempo para tudo, para os filhos, para os amigos, para ser dono de restaurante e de empresa de informática, para escrever um livro (que está rigorosamente parado, morto lá pela página 30) está me atrapalhando muito.
Está na hora de pensar na vida. Desculpe o desabafo. Um grande abraço, Rafael.