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Pedras, sapatos, tangerinas e ombuses

Percebem que as pessoas não sentem mais o gosto da comida?

Que quero dizer com isso? Que está todo mundo tomado por uma epidemia de glossite leprosa e perdeu a sensibilidade do paladar? Ou que, por causas desconhecidas como em “Ensaio Sobre a Cegueira” do Saramago exista uma espécie de “falta de percepção” do mundo em que vivemos?

Fico com a segunda opção.

Ultimamente ando escrevendo muito sobre esta “falta de percepção” que aflige a contemporaneidade.

Estamos todos em um “mar de fúria”, insanas fogueiras, chuvas ácidas e tiros metralhantes sem que possamos realmente reagir ou, pior, fingimos que não é conosco.

Falo mesmo das coisas mais simples, como uma janta em família. Enquanto um filho está comendo rápido para poder ir jogar videogame, outro já sai dizendo que vai comer na rua com os amigos, enquanto o pai dos guris está a assistir o Jornal Nacional (quando está em casa) e a mãe como pensando na merda de vida que tem e como deixou ficar assim…

Claro que as generalizações são sempre perigosas e sei que não é assim em todo canto.

Mas o que há de se concordar é que o mundo está andando MUITO RÁPIDO ultimamente.

Não conseguimos aproveitá-lo. Não conseguimos sentí-lo. Ele passa como um vendedor de algodões-doces surdo do outro lado da rua congestionada no centro de uma cidade grande.

É por isso que cada um de nós que, ao se aperceber disso, não pode ficar parado. temos que fazer alguma coisa para mostrar, iniciando por aqueles que estão do nosso lado, nossos familiares, amigos, colegas de trabalho e depois para todos aqueles a quem nossa voz puder chegar que existe saída para este mundo louco e ela começa buscando um retorno à Simplicidade.

Ferramentas como a Internet são fantásticas mas ao mesmo tempo alienantes.

Como escreveu minha amiga Evelise na edição de número 2 do Simplicíssimo:

“O que me aborrece profundamente são assuntos como globalização, “chats”, namoro virtual, superespecialização, individualização. Socorro! Ora… foda-se tudo isso! Será que alguém consegue enxergar??? Todos nós estamos vivendo uma crise de carência afetiva crônica!”

E continua:

“Pessoas cada vez menos se vêem, e quando eu falo ver, estou falando a respeito de encontros mesmo; se abraçam menos, sorriem menos, se beijam menos. Por mais que isto lhe pareça piegas, me entristecem estes fatos. Que fim levaram os encontros diários de amigos com todos aqueles abraços? Onde estão aquelas discussões fervorosas, com direito a tapas na mesa? Até mesmo os trabalhos acadêmicos em grupo… antes animados com lanches e fofocas? Todos estão mais entocados dentro de casa, mais egoístas, mais EU e menos NÓS, trocando mensagens quando estritamente necessário, vivendo nas células vitais de seus aptos.”

Leiam o texto completo que vale a pena.

Quero fazer coro ao apelo da Evelise e de tantas pessoas que pensam e que ando lendo nestes últimos tempos. Poderia citar Fritjof Capra, Edgar Morin, Hazel Henderson, Jeremy Rifkin, o próprio José Saramago e a lista se estende por linhas a fio.

Assim, quero e preciso de ajuda: começemos a incitar esta visão, a da necessidade da “Redução de Velocidade do Mundo“.

Para tanto, lá vou eu com mais uma Campanha:

“Viva uma Vida frugal, retorne à Simplicidade e aumente o Alto-astral!”

Isso mesmo! Agora só falta criar um banner para a Campanha! Se você tem criatividade e afinidade com mídia de criação digital, ponha as mãos à obra e encaminhe uma sugestão de logomarca/banner para a Campanha. Se não, desenha em papel, escaneia e manda assim mesmo!

E, mais importante que isso, que essa busca antroposófica para uma nova realidade aqui neste meio virtual é a propagação boca-a-boca em nossa casa, escola, trabalho…

Seja por que motivo for, alguma coisa de bom temos que fazer nesta Terra que nos acolhe.

Vamos juntos?

(publicado originalmente na edição de 15/09/2004 do Simplicíssimo, com adaptações)

Rafael Reinehr é médico endocrinologista, anarquista, escritor, permacultor, ativista oikos-socio-ambiental e polímata ma non troppo.

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