Troféu Fabulástico – Entrevista com Nemo Nox
É com grata satisfação que o Escrever Por Escrever começa hoje uma série de entrevistas com figuras que se distinguem por sua vida na world wide web. O primeiro nome da lista não poderia também deixar de ser o primeiro em outro aspecto: como ele mesmo conta, foi o primeiro brasileiro a criar um weblog em português, em março de 1998. Além deste pioneirismo, nosso entrevistado de hoje também revela sua extrema inventividade, criatividade e originalidade em um dúzia de outras criações textuais e visuais que poderão ser conhecidas seguindo os linques citados na entrevista.
Para conhecer um pouco mais sobre as origens da blogosfera e também sobre a origem e o caminho deste homem, o Escrever Por Escrever orgulhosamente traz Nemo Nox.
EpE – Bom dia, Nemo. Posso lhe chamar assim?
NN – É como todos me chamam. 🙂
EpE – Vamos começar com alguns dados biográficos.
Nome, idade, local de nascimento e moradia atuais,
profissão.
NN – Nemo Nox, 42 anos, nascido em Santos, morando em
Alexandria, nos EUA. Ex-fotógrafo, ex-professor
de desenho, ex-lavador de pratos, ex-publicitário,
ex-cineasta, ex-crítico de cinema, ex-diretor de
comerciais, ex-tradutor, ex-jogador de snooker,
ex-mediatecário, ex-webmaster, ex-diretor de
conteúdo web, ex-etc, e ameaça deixar de ser
ex a qualquer momento.
EpE – Conte-nos sobre sua pré-história. Fale do
Nemo Nox antes do “Por Um Punhado de Pixels”.
NN – A minha história na internet começa por volta
de 1995, quando retornei da Europa e comecei a
criar coisas em BBS e logo em seguida na web.
Publiquei crônicas, organizei eventos literários,
e fiz um modesto site pessoal, até que fui
convidado a escrever para o site Trix, de Santa
Catarina. Depois de alguns meses como freelancer,
fui contratado como editor-chefe da sucursal São
Paulo em 1998, e foi nessa época que fiz o meu
primeiro weblog. Saindo do Trix, publiquei uma
revista de cultura online, a Esfera, durante três
anos. A seguir comecei a trabalhar como webmaster
no BOL, e foi nessa época que nasceu o PPP.
EpE – Sabemos que você já morou em Santos, Porto
Alegre, Rio de Janeiro, Madri, Londres, Lisboa,
São Paulo, Miami e agora mora próximo a Washington
DC. Algum lugar tem a preferência de seu coração?
NN – Eu sempre acho coisas boas nas cidades onde moro,
ou não ficaria por lá. As que deixaram mais saudades
talvez sejam Madrid, onde morei, e Stockholm, onde
passei algumas semanas em férias.
EpE – Qual a origem do nome de seu blógue? Quando
surgiu?
NN – O primeiro post é de 01/01/2001. O nome é uma
homenagem ao filme Por um Punhado de Dólares,
do Sergio Leone, com Clint Eastwood.
EpE – Em seu weblog o tema central é cultura em geral.
Você vê esse seu “diário” somente como um arquivo das
coisas que vocÊ faz ou também como forma de ampliar a
visão de outras pessoas, dos seus leitores, por exemplo?
NN – Escrevo em primeiro lugar para mim mesmo, como
um registro das coisas que faço. Sempre tive
cadernos de anotações quase em estilo weblog,
a diferença maior é que agora faço isto em
público. E claro que tenho consciência de que
existe um leitor do outro lado, mas não moldo
o weblog para agradar a um determinado tipo
de público, e não tenho a pretensão de ser
didático ou educativo, quando muito acho que
o PPP pode ser útil com alguma dica de filme
ou de livro para alguém que compartilhe o meu
gosto por essas coisas.
EpE – A que você atribui seu sucesso na Blogosfera?
NN – Eu não considero o PPP um grande sucesso. Em
termos de visitação, é bem menos popular que
vários outros que contam com o apoio de um
portal (aparecer na capa do UOL, por exemplo,
faz uma diferença gigantesca) ou que já têm
um blogueiro famoso (ter o nome conhecido em
jornais, revistas e televisão ajuda muito na
hora de fazer um weblog novo).
EpE – Conte um pouco mais sobre seu outros sites,
Esfera, Pijama Selvagem e o Burburinho.
NN – A Esfera foi uma tentativa de fazer uma revista
de cultura online fora dos moldes que estavam
sendo usados por todos na época. Evitávamos os
mesmo assuntos que apareciam em outros sites e
fazíamos nossa própria pauta sem preocupação com
ganchos. Acho que a fórmula funcionou, pois o
site ganhou vários prêmios (Melhor Site de
Notícias do Mês da Starmedia, Que Página Legal
do ZAZ, Top Cadê, etc) e foi escolhido pela
Folha de S. Paulo como o “site cabeça” n°1.
O Pijama Selvagem surgiu de uma oferta criada pela
Esfera. Fiz contato com muitos quadrinistas e
cronistas que pediam para publicar seus trabalhos
no site. Mas a Esfera era uma revista “sobre” e
não “de”, ou seja, publicávamos entrevistas e
comentários sobre quadrinhos, filmes, livros, etc,
mas não os próprios quadrinhos, filmes, etc. Então
criei o Pijama Selvagem para abrigar esses trabalhos.
O Burburinho é o meu ezine atual, já com mais de
três anos de idade, uma evolução do modelo da Esfera
mas com nova proposta tanto em formato como em linha
editorial, mais ágil e mais pessoal.
EpE – E o Diário da Metrópole, o primeiro blógue em
língua portuguesa. Está adormecido ou foi aposentado
de vez?
NN – O site só continua online (partes dele) por
curiosidade histórica, não tenho intenção de
o ressuscitar.
EpE – Como ficaria composto seu top 10 da Blogosfera?
NN – Mudaria todos os dias. Em inglês, os que eu
leio sempre são o Jason Kottke e o Rex Sorgatz.
Em português, o Pedro Doria e o Hernani Dimantas.
Mas visito dezenas de outros com menos regularidade.
EpE – Em sua opinião, o que é preciso para fazer um bom blog?
NN – Em primeiro lugar, escrever bem. Conheço pessoas
cheias de boas idéias mas que são incapazes de
fazer um post bacana porque lhes falta domínio
da escrita. Em segundo lugar, ter o que dizer.
Não basta escrever bem se só fala de banalidades,
ou repete o que todos já sabem, sem qualquer dica
ou reflexão original. Em terceiro lugar, escrever
com freqüência. Weblog desatualizado é weblog
abandonado. Um layout limpinho também ajuda.
Tem muito mais, é claro, isto é só o básico.
EpE – Qual seu posicionamento político-ideológico?
NN – Não estou alinhado com partidos ou ideologias
rígidas. Tenho fortes tendências anti-autoritárias,
não gosto de fronteiras, não gosto de burocratas,
não gosto de igrejas, não gosto de censores.
EpE – Apesar de morar aí nos States, achas que o Brasil
tem solução? Se tiver, lasca aí:
NN – Declarem guerra aos EUA, rendam-se, sejam
anexados, passem a usar o dólar como moeda
nacional, votem contra a turma do Bush na
próxima eleição. Parece um bom plano? 🙂
EpE – Como você sente a atual onda de anti-americanismo
morando aí nos Estados Unidos?
NN – Não vejo onda de anti-americanismo, a não
ser por parte de pessoas pouco esclarecidas.
O que há, por todo o mundo, inclusive nos
EUA, é uma onda contra as políticas atuais
dos republicanos que estão no poder.
EpE – Sua vida pessoal: és casado, amarrado, descabelado…
NN – Solteiro.
EpE – Quais são as atividades que fazes em seu tempo livre?
NN – Que tempo livre?
EpE – Quais seus artistas e músicas preferidas?
NN – http://www.nemonox.com/ppp/topcds.html
EpE – Tocas algum instrumento ou tem vontade de aprender?
NN – Quando era criança, comprei uma flauta doce
e um livro de música, aprendi a ler partituras
e a tocar algumas coisas. Isto tudo foi útil
em duas ocasiões. Uma vez, em Londres, sem
emprego, passei uns dias tocando flauta nos
corredores do metrô em troca de algumas moedas.
Bem mais tarde, em Lisboa, fui contratado para
trabalhar numa orquestra porque era o único
candidato que sabia ler partituras. Mas não
sou músico, gosto mesmo é de ouvir.
EpE – Quais seus diretores e filmes preferidos?
NN – http://www.nemonox.com/ppp/topmovies.html
EpE – Quais seus autores e obras preferidos?
NN – http://www.nemonox.com/ppp/topbooks.html
EpE – Existe alguma intenção em publicar um livro de sua autoria?
NN – Tenho um livro de contos ameaçando ficar pronto
há uns tempos, mas tem faltado tranqüilidade para
terminá-lo. Em breve, prometo. (Se aparecer uma
editora interessada eu termino mais rápido.)
EpE – Quais são seus principais projetos para os próximos 5 anos?
NN – Eu não faço planos a longo prazo.
Nem sei o que estarei fazendo daqui a um ano.
Amplexos nemonoxianos,
Nemo Nox
por um punhado de pixels
http://www.nemonox.com/ppp