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Quase Filosofia

Eu deixei uma mosca morrer

Hoje, enquanto estava tomando banho, deixei uma mosca morrer.

Falando assim, pode parecer uma banalidade. Quantas vezes matamos insetos ou mesmo outros animais para nos alimentarmos ou, no caso de algumas pessoas, até para diversão?

moscaEntretanto, desde janeiro, quando Carol e eu passamos a aderir uma dieta vegetariana, tenho repensado minha relação com o reino Animal.

Normalmente, quando um grupo de vespas começava a formar um vespeiro na aba do teo aqui de casa, eu ia com uma tocha e queimava o ninho e, junto dele, algumas de suas moradoras. Hoje, prefiro apenas derrubar o ninho com um cabo longo, sem machucar fisicamente as vespas. Não, ainda não consegui chegar ao ponto de preocupar-me “socialmente” com as vespas e com o local que elas deverão procurar para morar…

Sobre a mosca de hoje, a história foi assim: eu estava tomando banho quando, não mais do que de repente, uma mosca pousou no chão do banheiro, mas pousou em cima de uma poça de água, e acabou ficando de cabeça para baixo. Instintivamente, acabei levando meu braço com algumas gotas de água por sobre a poça de água, pensando, maldosamente, que a gota pudesse ajudar a “afogar” a mosca. Esse pensamento só me ocorreu por menos do que um instante, mas consegui captá-lo na minha cabeça. O que aconteceu, com a minha gota, no entanto, foi que a mosca acabou virando-se de barriga para baixo, mas ainda presa na água. No mesmo instante, pensei em dar-lhe um peteleco e tirá-la daquela situação, mas continuei ali, banhando-me e, de vez em quando, observando a tentativa da mosquinha de sair de lá.

Ao final do meu banho, a mosca não mais se mexia. Acho que estava exausta ou, então, morreu. Fico pensando: qual era minha responsabilidade sobre a vida daquele inseto específico? Moralmente, sei que pertenço a uma espécie chamada Homo sapiens (nem sempre tão sapiens assim) e que, para minha permanência e sobrevivência, acabamos realizando mudanças no meio-ambiente que agridem ou mesmo exterminam com a biodiversidade, incluindo a vida de muitos animais.

O vegetarianismo é um passo para tentar reduzir este impacto que nós, humanos, causamos ao lar que nos abriga. É uma escolha, no meu caso, mais moral do que de saúde. É uma escolha que nos faz refletir, continuamente, sobre nossas relações com outros humanos, outros animais e, também, com outras espécies não animais como os próprios vegetais que consumimos.

Geralmente, um dos argumentos que os carnívoros (ou onívoros) mantém para seguir comendo carne diz respeito ao fato de que os vegetais também são seres vivos e merecem nosso respeito tanto quanto os animais. Não haveria diferença moral entre comer um animal ou um vegetal: é apenas uma questão de sobrevivência (queria ouvir isso de quem come vitela e foier gras). Outros ainda, admitem que não conseguem viver sem carne, pois o hábito, a cultura e o paladar vencem qualquer fibra moral que possuam naquele dado momento. Há que se respeitar esta decisão, afinal, somos humanos, e cada um de nós tem suas forças e fraquezas. Eu mesmo, posso ter fibra para passar uma vida inteira sem comer carne mas, em uma situação como um incêndio, por exemplo, possa não ser capaz de invadir uma casa em chamas para salvar a vida de uma pessoa (isso nunca aconteceu, e também espero não ser posto a prova nesta situação).

Mas ainda, sobre a mosca: não, não espero ser o guardião das moscas e também não me imagino ajoelhado frente a uma formiga, em prantos, quando eu acabar por pisar acidentalmente nela. O que gostaria de saber, mesmo, é até onde vai minha responsabilidade pela vida dos animais à minha volta. O que fazer com a questão dos cães de rua, por exemplo? E com os moradores de rua? E com os meus desejos de consumo?

E agora, José, o que você me diz?

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