TAZ – Zona Autônoma Temporária – Hakim Bey – Psicotopologia da Vida Cotidiana (parte III de VII)
Em 1899 o último pedaço de terra não reivindicado por um Estado-nação foi devorado e o mapa terrestre foi “fechado”. Não temos mais terras incognitas, sem fronteiras. Do ponto de vista de Hakim (que também é compartilhado pela quase totalidade dos anarquistas) a definição de um território “de alguém”, esta malha política abstrata é uma proibição gigantesca imposta pelo cacetete condicionante do Estado “Especializado”.
Como solução, surge o conceito de psicotopologia (e psicotopografia) para desenhar mapas da realidade em escala 1:1, que ajudarão a encontrar “espaços” (geográficos, sociais, culturais, imaginários) com potencial de florescer como zonas autônomas nos momentos em que estejam relativamente abertos, seja por negligência do Estado ou pelo fato de terem passado despercebidos pelos cartógrafos, ou por qualquer outra razão. A psicotopologia é a arte de submergir em busca de potenciais TAZs.
Algumas características/possibilidades da TAZ:
1. Em contraponto à família nuclear, surgida com a revolução agrícola, ressurge a figura do bando, grupos de afinidades compostos por amigos, ex-esposos e amantes, pessoas conhecidas em diferentes empregos e encontros, redes de pessoas com interesses específicos, listas de discussão…
2. A TAZ como um festival, um jantar onde todas as estruturas de autoridade se dissolvem no convívio e na celebração. O jantar pode ser considerada a semente de uma nova sociedade tomando forma dentro do invólucro da antiga. A reunião tribal dos anos 60, o conclave florestal de eco-sabotadores, o festival dos antigos celtas celebrando a entrada da primavera, as conferências anarquistas, as festas gays, as festas de aluguel no Harlem dos anos 20, as casas noturnas, os banquetes, os piqueniques dos antigos libertários, todos podem ser considerados TAZs em potencial.
3. A utilização do conceito de nomadismo psíquico desenvolvida por Deleuze e Guattari, em que se abre a possibilidade de uma visão de mundo pós-ideológica e multifacetada, capaz de se mover, de forma “desenraizada”, da filosofia para o mito tribal, da ciência natural para o taoísmo; visão essa que foi alcançada às custas de se viver numa época na qual a velocidade e o “fetichismo da mercadoria” criaram uma unidade tirânica e falsa que tende a ofuscar toda a diversidade cultural e toda a individualidade para que “todo lugar seja igual ao outro”. Este paradoxo cria “ciganos”, viajantes psíquicos guiados pelo desejo ou pela curiosidade, errantes com laços de lealdade frouxos, desligados de qualquer local ou tempo determinado.
Toda a série TAZ – Zona Autônoma Temporária:
TAZ – Zona Autônoma Temporária – Hakim Bey – Utopias Piratas (parte I de VII)
TAZ – Zona Autônoma Temporária – Hakim Bey – Esperando pela Revolução (parte II de VII)
TAZ – Zona Autônoma Temporária – Hakim Bey – Psicotopologia da Vida Cotidiana (parte III de VII)
TAZ – Zona Autônoma Temporária – Hakim Bey – A Internet e a Web (parte IV de VII)
TAZ – Zona Autônoma Temporária – Hakim Bey – Fomos para Croatã (parte V de VII)
TAZ – Zona Autônoma Temporária – Hakim Bey – A Ânsia de Poder como Desaparecimento (parte VI de VII)
TAZ – Zona Autônoma Temporária – Hakim Bey – Caminhos de Rato na Babilônia da Informação (final)