Jejum de Dopamina: Uma Nova Forma de Sensibilizar seu Cérebro para a Felicidade?
Um artigo de Meghan Holohan, publicado na Today em dezembro de 2019 nos traz uma curiosa “novidade” que chega, sem nenhuma surpresa, do Vale do Silício.
Enquanto ainda discutimos por aqui a eficiência, os riscos e benefícios do jejum intermitente, um tipo diferente de jejum é tendência por lá: o “Jejum de Dopamina”.
Seguidores dessa nova proposta acreditam que, ao se privar de qualquer coisa que os estimule – equipamentos eletrônicos, filmes, televisão, luz, sexo ou mesmo outras pessoas – eles podem manipular seus níveis de dopamina no corpo e “reiniciar” seus cérebros.
A princípio, pode parecer uma boa ideia: sensibilizar o efeito da dopamina, conhecido como um dos “hormônios da felicidade”, apenas por desconectar-se de equipamentos eletrônicos e se afastar, temporariamente, de atividades prazeirosas.
Para “jejuar”, os seguidores dizem que eles evitam coisas que eles gostam, que podem incluir aparelhos eletrônicos, sexo, mídias sociais, divertimento, compras, apostas, exercícios, comida e bebidas por um período determinado de tempo. Alguns mais radicais podem até evitar contato visual ou conversas durante este tempo.
O objetivo – evitar o estímulo no presente, seria tornar-se mais feliz depois. Por exemplo: ama fazer compras online? Durante o jejum, você deve evitar fazê-lo. De uma certa forma, é como a meditação na qual as pessoas permanecem algum tempo sem excitações externas. Mas esse tipo de jejum é adaptado às coisas que especificamente causam picos de dopamina em cada pessoa, quer seja vinho tinto, Instagram ou filmes Noir.
Para neurocientistas como Madelyn Fernstrom, “Nosso cérebro está sempre trabalhando. Nossos transmissores, como a dopamina, estão sempre trabalhando.”. Em suma, o que se espera em teoria pode não estar acontecendo na prática.
O que é a dopamina?
A dopamina exerce no nosso corpo uma série de funções. No cérebro, ela é responsável por ajudar a controlar nosso humor, para nos trazer aquela sensação de satisfação e recompensa.
As pessoas geralmente a conhecem como o “hormônio da excitação e da busca da novidade”, conta o Dr. Amit Sood, diretor da Resilient Option.
Isso significa que as pessoas experimentam um pico quando tentam algo novo ou antecipam algo.
“Um monte das mídias sociais é movido por dopamina”, diz ele.
Mas o papel da dopamina é muito mais complexo. Ela também ajuda o cérebro a controlar os movimentos e existe em outras partes do corpo, regulando a insulina, ajudando na digestão, gerenciando a função hepática e mantendo a pressão arterial.
“Ela é como um coordenador de tráfego aéreo. Controla e coordena as funções de um monte de diferentes órgãos, um monte de partes diferentes do corpo, para garantir que elas trabalham de forma harmoniosa.” – explica Zack Freyberg, professor assistente de psiquiatria e biologia celular da Universidade de Pittsburgh. Não ter dopamina suficiente causa problemas reais. A doença de Parkinson é um exemplo. O corpo absolutamente necessita fazer dopamina porque precisa dela para controlar os sistemas de suporte à vida.
De certa forma, comer e exercitar-se pode influenciar na produção de dopamina, mas não da forma que os fãs do jejum de dopamina pensam.
Quando você come, a quantidade de dopamina no seu corpo temporariamente aumenta, pois ela ajuda a regular os níveis de insulina. E existem cada vez mais evidências de que os exercícios pode ajudar os pacientes de Parkinson a preservarem a quantidade de dopamina que possuem no cérebro.
Nome errado, ideia correta
Apesar de que o nome seja uma simplificação exagerada de como a química cerebral funciona, o conceito por trás do jejum de dopamina é positivo. O que os “jejuadores” estão verdadeiramente propondo é uma pausa do estímulo e se tornarem plenamente conscientes – ambas práticas saudáveis.
“Não existe nenhum lado negativo na prática, a não ser que você acredite que esteja tendo algum impacto imediato na sua química cerebral”, diz Fernstrom. “É um engano acreditar que um comportamento de curto prazo de qualquer tipo irá ter um impacto duradouro em seu cérebro”.
Além disso, desconectar-se e passar mais tempo sem estímulos pode ter um efeito oposto do que antecipado pelos jejuares.
“A meditação tem demonstrado aumentar a dopamina nos centros de recompensa do cérebro”, disse Sood.
Enquanto meditar e evitar aparelhos eletrônicos é benéfico, Sood encoraja as pessoas a pensar em adicionar algo à vida ao invés de subtrair.
“É muito difícil esvaziar sua vida de algo”, diz ele. “Eu tentei esvaziar minha mente e não funciona. Não é sobre esvaziá-la. É sobre preenchê-la com as coisas certas.”
É justamente or isso que ele sugere que as pessoas pensem em algo positivo enquanto se afastam dos aparelhos e do excesso de atividades.
“Se você meditar sobre gratidão, compaixão ou bondade será muito mais efetivo”, diz Sood.
Artigo adaptado de https://www.today.com/health/what-dopamine-fasting-how-some-are-trying-change-their-brains-t168580