Vida tranquila
Quase Filosofia

Saude – Parte I (de VIII)

(artigo originalmente publicado na minha coluna Medic(t)ando, na Revista DOC, edição #020, de março/abril de 2012)

Pela definição da OMS, saúde não é mais definida pela simples ausência de doença, mas por um “completo estado de bem-estar físico, mental e social”. Esta definição, muito abrangente e quase utópica, é com frequência criticada e do meu ponto de vista, poderia muito bem ser substituída pela definição de Segre e Ferraz:

Saúde é um estado de razoável harmonia entre o sujeito e sua própria realidade“.

Esta definição, permite que pessoas que estejam em situações sociais ou mesmo físicas de dificuldade, mas que estão lidando bem com isso mentalmente, sejam consideradas saudáveis (como por exemplo uma pessoa com baixa renda ou com uma deficiência física permanente, o que não é possível pela leitura em senso estrito da definição da OMS).

Levando em conta esse novo olhar sobre o que é a saúde, podemos passar a incluir em nossa vida algumas palavras que, sem dúvida alguma, representam, em seu conjunto, um olhar mais apurado sobre qualidade de vida e bem-estar. Nas próximas edições da Medic(t)ando estarei aprofundando um pouco mais sobre algumas palavras e seus significados, e como podemos extrair delas lições para otimizar nossas vidas.

A primeira palavra que gostaria de colocar sobre a mesa é “Preguiça”. Como já dizia Lessing, “sejamos preguiçosos em tudo, exceto em amar e em beber, exceto em sermos preguiçosos”. Um provérbio espanhol também nos diz: “Descansar es salud” (descansar é saúde). Movimentos como o Slow Food (movimento ecogastronômico que nos convida a comer devagar, sentindo o prazer do gosto dos alimentos e das refeições, nos estimula a sermos conviviais e refletir sobre a origem dos alimentos, sobre serem orgânicos ou produzidos localmente), o conceito de ócio criativo, experiências como a procrastinação e a “redeterapia” (usar uma rede de dormir para descansar, quando possível, mesmo durante o dia), são todas experiências que podem nos ajudar a ganhar pontos no quesito saúde.

Outra palavra que também nos é muito cara no caminhar para uma maior qualidade de vida é a “Frugalidade”, ou a “Simplicidade Voluntária”. Ser frugal é ser simples em nossos costumes, em nossa forma de viver. É não correr demasiado em busca do ter, pois reconhece-se a ilusão de que isto é feito. é evitar o desperdício, é preocupar-se com a ecologia, é dispensar hábitos caros, é suprimir a necessidade de auto-gratificações constantes.

Há alguns anos, cunhei uma expressão que chamei de Atitude Ecofit, quando aplicamos o ato de pensar de forma frugal, locávora e trazemos gotas de humanidade e vida em comunidade para o nosso pensar. Comecei a me questionar sobre as caras roupas de tênis que eu usava, e que eram feitas na Indonésia por alguma criança ou adulto mal-remunerado. E se eu solicitasse a alguma costureira da vizinhança que fizesse os meus calções e camisetas, seguindo os padrões de marcas como Nike, Head e Adidas? Mesmo que não ficasse exatamente igual, eu saberia que estaria ajudando alguém que conheço, perto de onde moro, fortalecendo a economia local, remunerando-a de forma justa e, ainda por cima, me livrando de uma marca globalizada que, historicamente, não respeita seus funcionários além-mar. Só essa percepção, no meu caso, já contribuiu para me deixar mais feliz.

O espaço vai acabando e estamos apenas começando.

Na próxima coluna vamos falar um pouco mais sobre Saúde, Qualidade de Vida e Bem-estar nas Relações no e com o trabalho, na nossa relação com o Tempo e com a Espiritualidade.

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