O aumento de preço do Deposteron
Hoje pela manhã, em um grupo de médicos endocrinologistas, descobri que o Deposteron, medicamento utilizado por pacientes em andropausa para garantir sua qualidade de vida, bem-estar e adequada função hormonal e homeostase, bem como homens trans, para permitir a transição de gênero e a manutenção desta, teve seu preço reajustado em cerca de 300% (de menos de 50 reais por 3 ampolas para mais de 200 reais), de forma súbita.
Esse aumento abusivo de preço ameaça a saúde física e mental da população acima, já que era o único composto comercial disponível com valor acessível a uma população que, em grande parte é carente e não recebe o medicamento do SUS.
As alternativas, como o undecilato de testosterona 250mg/ml, com aplicação trimestral e a testosterona em gel são tratamentos ainda mais caros, o que irá inviabilizar o uso do medicamento por uma parcela não desprezível da população, que não terá onde correr a não ser a busca judicial do medicamento, mais uma vez sobrecarregando tanto o sistema judiciário como os balcões das Defensorias Públicas municipais, já abarrotadas de pedidos de medicamentos para toda sorte de afecções.
Qual o papel da ANVISA nessa questão? O que tem a dizer a EMS, responsável pela distribuição do medicamento no Brasil? E, mais importante do que isso: como se pode reverter COM BREVIDADE essa atitude desmesurada trazendo uma solução que atenda ao mesmo tempo a população em necessidade e a sustentabilidade econômica para quem fabrica e distribui? Onde estará o ponto de equilíbrio entre o lucro, as artimanhas políticas, os interesses dos acionistas e a saúde das pessoas afetadas?
Uma alternativa que se impõe e se torna viável em casos como esse, no qual uma empresa detém praticamente o monopólio de uma classe de medicamentos, é a criação de uma Cooperativa formada pelos interessados para importar de países vizinhos e distribuir os medicamentos em nosso país, de forma legalizada. No caso de um medicamento particularmente complicado, como a testosterona – pelos seus efeitos esteróides anabolizantes – podemos antever uma série de empecilhos impostos pela própria Agência que permitiu (por razões ainda não bem claras) este aumento de preço.
O que sabemos a esta altura é que só uma grande mobilização das partes interessadas será capaz de reverter essa decisão arbitrária, que se acumula com tantas outras em nosso país. É hora de virarmos o topo giratório do mundo e criar mecanismos mais transparentes, lógicos e que beneficiem todas as partes de uma equação. Isso não é possível em sistemas melindrosos e auto-protetivos como o que vemos na nossa pseudo-democracia.
No momento, não consigo encontrar saída satisfatória a não ser ventilar o absurdo e fazer coro a quem está sendo injustiçado. Ficar calado não é a solução. Força aos que lutam.