Quinta-feira, 1 de julho de 2004 – Manifesto anti-individualista
Manifesto Anti-Individualista
Rafael Luiz Reinehr
Certo dia me dei conta de que já tinha praticamente tudo que um homem precisa para ser feliz: uma família sempre pronta a dar suporte no que precisasse, uma namorada que me amava, um trabalho do qual realmente gostava, várias habilidades artísticas em campos diversos (música, pintura, literatura, cinema, fotografia) adquiridas com o passar do tempo, uma inteligência boa o suficiente para compreender ao menos rusticamente o mundo à minha volta e capaz de me fazer um permanente questionador e um padrão de vida que, comparado à boa parte da população de meu país pode ser considerado “confortável”.
É certo que ainda haviam muitas coisas a conquistar, como minha casa própria, um estado de consciência mais espiritualizado e menos materialista e mais tolerância com meus semelhantes. Mas estava caminhando nesta direção.
Achei que já era hora de parar de construir somente a meu favor. Não consigo precisar exatamente a data mas, desde meus vinte e poucos anos (pode ter sido antes) passei a viver com a exata noção de que poderia fazer a diferença no mundo em que vivia. Sabia que muitos teimavam em afirmar que isso era “coisa de jovem” e “passava com o tempo”. Saí de um estado de anestesia e tratei de aprimorar meus conhecimentos, habilidades e capacidades nos mais diversos ramos do conhecimento humano, sempre em mente com o objetivo de me armar com as ferramentas capazes de, algum dia, produzir a diferença que eu tanto sonhava para o mundo.
Assim, além de voltar minhas leituras para escritos filosóficos, políticos, sociológicos e antropológicos, além de romances assim chamados “densos”, passei a freqüentar, após a conclusão da Faculdade de Medicina, as aulas da Faculdade de Filosofia e posteriormente as da faculdade de Ciências Sociais de minha cidade.
Muitas reflexões advindas desta época me auxiliaram a abrir meus olhos e expandir meus sentidos para melhor perceber o mundo que me rodeava e suas singularidades explícitas e ocultas.
Sofrimento com doenças e desilusões amorosas foram enriquecedores. Contatos com novos amigos e suas idéias foram revigorantes. Uma estada na Inglaterra foi um sopro pleno de luz em meu caminho. A descoberta de um novo amor foi estimulante.
A consciência de crises vitais como pontes que necessariamente precisamos atravessar deixou de ser angustiante e passou a ser reconfortante e, assim como no expressionismo as formas e perspectivas normais foram distorcidas pelas emoções íntimas e me senti no controle destes momentos de descontrole. Passei a dominar o caos.
Um dia, aparentemente igual a todos os outros, me deparei com um jornal de uma semana antes com uma reportagem na última página que havia passado por mim desapercebida. Contava a história de um menino cego de origem humilde que, com muito esforço, havia conseguido passar no vestibular para Letras em uma Universidade Federal. A batalha agora era conseguir um gravador para que o jovem pudesse acompanhar adequadamente as aulas na faculdade, já que seria difícil encontrar livros em Braile das matérias exigidas.
Pensei que seria uma causa justa ajudar e me propus a doar o gravador ao menino.
Este ato gerou, como sua conseqüência quase que imediata, a decisão de, a partir daquele dia, doar 10% de todos meus vencimentos a pessoas ou entidades necessitadas. Não sei se influenciado pela leitura de Memórias do Subsolo de Dostoievski mas certamente sem desprezar os Tio Patinhas que sempre lia na infância, muitos foram os estímulos em minha vida para que pudesse hoje chegar a esta decisão.
Sem querer, acabei criando o que vou chamar de ING – Indivíduo Não-Governamental, em contraposição às ONGs – Organizações Não-Governamentais. Extremamente fácil de gerir, sem custos de administração ou distribuição, totalmente vinculada ao meu próprio bom-senso, juízo crítico e vontade de ajudar. A maior vantagem seria que a fonte beneficente lidaria diretamente com a beneficiada, sem intermediários que oneram, atrasam ou desviam a ajuda oferecida. E, no momento em que não pudesse arcar com os custos, poderia simplesmente suspender temporariamente minha ajuda.
Pode-se dizer que, contemporaneamente, nossas ONGs são formadas por pequenas INGs, que oferecem seu tempo como auxílio ao próximo. Muito louvável, mas ainda insuficiente!
Felizmente, estamos também desenvolvendo a idéia de Empresas Ecológica e Socialmente Responsáveis, que se preocupam com o meio-ambiente e com o patrocínio de projetos sociais nos mais diversos níveis e frentes. Continuemos neste caminho!
A tarefa somente começou. Após esta decisão pessoal, tratarei de divulgá-la e tentar contagiar o maior número possível de profissionais liberais e autônomos e principalmente de empresas que ainda não aderiram a projetos de Responsabilidade Social.
Se você é sensível à causa, passe a ajudar com o que puder. Se ganha R$ 200,00 por mês e fuma 1 maço de cigarros por dia, tente fumar apenas 15 e colabore com apenas 1% de seus vencimentos, comprando R$ 2,00 em um pacote de brinquedinhos de plástico no 1,99 e doando a uma creche perto da sua casa (pode ser até aquela em que seu filho fica!). Se sua empresa ganha R$ 1.000.000,00 por mês e você acha que doar R$ 100.000,00 todo santo mês é demais, pense então em doar apenas 1% como propus ao cidadão que não tem nem com quê limpar o c´… R$ 10.000,00 não farão falta, no seu caso, mas farão uma diferença enorme àqueles a quem te propuseres a ajudar. Essa proposta vale para bares, restaurantes, butiques e lojas de shoppings ou pequenos comércios da periferia, casas de prostituição e para todos que se sentirem bem ou aptos a ajudar.
Mesmo que faças esta caridade pensando no imenso retorno emocional que sua ajuda vai lhe trazer, não se importe! O importante é que, mesmo neste caso, é só benefício que estamos proporcionando! Seu ato de bondade será recompensado com outro de gratidão inigualável. Segue-se daí a famosa “corrente do bem”, que funciona excepcionalmente em pequenas comunidades mas dificilmente conseguimos ampliar para um cosmos maior como um país ou mesmo todo o mundo.
Em tempos onde a guerra preventiva encontra-se insanamente justificada, temos que urgentemente encontrar alternativas. Esta é a que ofereço.
A todos aqueles a quem este Manifesto chegar às mãos, peço que entrem em contato através do e-mail superjazz7@terra.com.br, do site Simplicíssimo(www.simplicissimo.com.br), do blógue Escrever Por Escrever(escreverporescrever.blogs.sapo.pt) ou do endereço Avenida Concórdia, nº 1253, Centro, CEP 96540 000, Agudo – RS, Brasil. Novas e mais idéias são sempre bem-vindas!
Tão prontamente o sítio Armazém de Idéias Ideais (www.armazemdeideias.org) ficar pronto, teremos um belo espaço para cadastrar todas INGs afins com a idéia, divulgar os benefícios gerados e também manter um fórum para debater sobre novos projetos para melhorar a vida humana sobre esta nossa fabulosa Nau Planetária.
(RLR, Santa Maria, 24 de junho de 2004)
Não seja 100, seja 110%! – Campanha pelo Dízimo Solidário
Conclamação a todas as pessoas do bem a doarem integralmente de 1 a 10% de seus vencimentos para entidades assistenciais, pessoas carentes ou com deficiências e entidades artísticas e culturais necessitadas.
Hoje, 1º de julho, é o dia do meu Aniversário. 28 anos. Muitos estímulos, muitos significados. Agradeço a todos (e a tudo) que me fez quem sou hoje, este ser imperfeito que incansavelmente busca sempre melhorar. É o mínimo que podemos fazer. Do meu ponto de vista.