Patologias do Vazio
Ontem fomos, Carol e eu assistir à um colóquio na sala 160 do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, acerca das patologias do vazio, enfermidades que só agora os psicanalistas estão começando a se instrumentalizar para tratar, já que, por muito tempo, seus portadores eram considerados casos difíceis ou resistentes.
Um exemplo de uma estas “patologias” diz respeito ao ideal narcisita que transfere, na atual sociedade da performance, do estresse e do consumo, para os objetos (bens materiais) a sua identificação, buscando assim isolar a solidão/frustração advinda da relação com o Outro. Para o narcisista, é infinitamente melhor se relacionar com o objeto do que com o Outro, já que este último nunca se pode controlar totalmente.
Essa percepção vai muito mais além do fato de “ir às compras” quando estamos ansiosos. Significa uma estrutura básica de alguns indivíduos e cada vez mais presente não só na sociedade mas também nos consultórios psiquiátricos e psicológicos já que, ao tentar estabelecer com o Outro a relação que se estabelece com a “coisa”, com o “objeto”, uma relação de poder e de querer exigir sempre a perfeição (como fazemos com um produto que adquirimos e, imaginamos, temos o direito de tê-lo funcionando “conforme a garantia”), acabamos por gerar frustração em nós mesmos e no Outro. O sofrimento advindo deste “mau encontro” é um prato cheio para os psicanalistas, temos que convir.
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O colóquio, apesar de não focar diretamente neste assunto, me fez dar um estalo: preciso “voltar às metáforas”. A criação artística e literária que sempre caracterizou minha essência estão deixadas severamente de lado pelos compromissos assumidos atualmente, e isso não é bom. De volta às metáforas, então.