TAZ – Zona Autônoma Temporária – Hakim Bey – Fomos para Croatã (parte V de VII)
Fomos para Croatã” e A Música como um Princípio Organizacional
Nestes dois capítulos, Bey cita alguns exemplos históricos de comunidades que sobreviveram temporariamente sob ideais anarquistas e fala sobre a miscigenação das raças, citando Nietzsche, que impressionado pela beleza e vigor das culturas híbridas, enxergou na mistura das raças não só uma solução para os problemas da raça mas também um princípio para uma nova humanidade, livre dos preconceitos étnicos e nacionalistas – um precursor do “nômade psíquico”, talvez. Infelizmente, ainda hoje em dia, as culturas mestiças permanecem submersas.
Surgem exemplos como a colônia Roanoke, os Antinomianos, os familistas, quakers patifes, levellers, diggers e ranters, a ilha de Tortuga, Libertatia, os ramapaughs, os ben-ismaelitas, os kallikaks, a Modern Times, os falanstérios (…) que podem ser facilmente pesquisados em qualquer enciclopédia.
Há também o curioso caso da República de Fiume, criada por Gabriele D’Anuzzio, “poeta decadente, artista, músico, esteta, mulherengo, doidivanas aeronauta pioneiro, bruxo negro, gênio e mal-educado”, que emergiu da Primeira Guerra como herói e com um pequeno exército a seu dispor. Louco por aventura, decidiu capturar a cidade de Fiume na Ioguslávia e entregá-la à Itália. Quando foi ofertar a cidade, a Itália a recusou e o primeiro-ministro lhe chamou de idiota.
D’Anuzzio decidiu então declarar a independência e, com seus amigos anarquistas escreveu a Constituição, que instituía a música como princípio central do Estado. Artistas, boêmios, aventureiros, anarquistas, fugitivos, refugiados, homossexuais, dândis militares, excêntricos reformadores de todas as espécies (budistas, teosofistas e seguidores do vedanta) começaram a aparecer de todos os cantos.
A festa era contínua. Toda manhã, de seu balcão, D’Anuzzio liz poesias e manifestos. Dezoito meses depois, quando o vinho e o dinheiro tinham acabado, a frota italiana finalmente chegou e, com um par de projéteis arremessados contra o Palácio Municipal, estava finda a festa. Ninguém tinha energia para resistir.
É também digna de nota a existência do soviete de Munique de 1919, que tinha como principais membros Gustav Landauer como Ministro da Cultura, Silvio Gesell como Ministro da Economia e outros militantes contra o autoritarismo e socialistas extremamente libertários como Eric Müsham, Ernst Toller e Ret Marut. Landauer passou anos realizando uma grande síntese de Nietzsche, Proudhorn, Kropotkin, Stirner, Meister Eckhardt, os místicos radicais e os românticos filósofos populares e sabia que o soviete estava com os dias contados. Esperava apenas que durasse o suficiente para ser compreendido.
Kurt Eisner, o fundador do soviete, acreditava sinceramente que os poetas e a poesia deveria formar a base da revolução. Planejava-se reservar parte da Bavária para um experimento em comunidade com economia anarco-socialista. Landauer escreveu uma proposta para uma Escola Livre e um Teatro do Povo.
É, ainda não foi dessa vez que uma experiência libertária comunitária emplacou de vez…
Toda a série TAZ – Zona Autônoma Temporária:
TAZ – Zona Autônoma Temporária – Hakim Bey – Utopias Piratas (parte I de VII)
TAZ – Zona Autônoma Temporária – Hakim Bey – Esperando pela Revolução (parte II de VII)
TAZ – Zona Autônoma Temporária – Hakim Bey – Psicotopologia da Vida Cotidiana (parte III de VII)
TAZ – Zona Autônoma Temporária – Hakim Bey – A Internet e a Web (parte IV de VII)
TAZ – Zona Autônoma Temporária – Hakim Bey – Fomos para Croatã (parte V de VII)
TAZ – Zona Autônoma Temporária – Hakim Bey – A Ânsia de Poder como Desaparecimento (parte VI de VII)
TAZ – Zona Autônoma Temporária – Hakim Bey – Caminhos de Rato na Babilônia da Informação (final)