Imagine a seguinte cena: é sexta-feira à noite, as crianças finalmente dormiram depois daquela maratona de “Por que o céu é azul?” e “Pai, onde mora o vento?”. Seu WhatsApp fervilha com convites para lives, rodas de conversa, festivais de jazz orgânico, e-books gratuitos e uma avalanche de reels que juram que “10 segundos vão mudar sua vida”. Enquanto isso, a Netflix sussurra: “Só mais um episódio… ”.
Se você sente que, não importa o que escolha, sempre está deixando passar algo incrível, bem-vindo ao clube — ou melhor, ao YAMA, You’re Always Missing Out. Em bom português: Você sempre vai estar perdendo alguma coisa.
Da FOMO à YAMA
A prima famosa do YAMA é a FOMO (Fear of Missing Out). A FOMO grita no seu ouvido: “Corre ou você nunca mais será feliz!”. Já a YAMA, mais zen e honesta, dá um tapinha nas costas, entrega um chá quentinho (talvez de lavanda, se você leu meu artigo sobre insônia na menopausa) e diz:
“Relaxa, Rafa. Já que você sempre vai estar perdendo alguma coisa, para quê se estressar? Escolha o que fizer sentido agora e mergulhe sem culpa.”
Percebe a diferença de vibração? É quase a passagem da pressa endocrinológica do cortisol para a dopamina serena de uma caminhada sem celular em plena manhã de inverno gaúcho.
Sobrecarga de escolhas: um bug na nossa biologia
Nossos ancestrais de Santa Maria (ok, dos pampas paleolíticos) encaravam poucas decisões de entretenimento: contar estrelas ou aprimorar a lança. Nós, porém, surfamos um tsunami de opções:
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+50 000 shows por ano só nos EUA.
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140+ artistas num Coachella da vida (e ainda tem o after).
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5 000 filmes e 2 500 séries na Netflix, fora os streamings alternativos.
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275 000 livros novos por ano lançados só nos EUA.
Resultado? Sobrecarga de escolha. O córtex pré-frontal — aquele CEO do cérebro que já lida com prazos, boletos e a La Misión Brasil 25 k — trava como computador rodando Windows 98 com 40 abas abertas.
O corpo entende esse caos como ameaça: “Se eu não acompanhar aquele painel sobre biohacking + ayurveda + inteligência artificial, talvez fique para trás na tribo digital e meus memes não se reproduzam.” É o ancestralismo operando no Wi-Fi.
YAMA × JOMO: qual é a sua vibe?
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JOMO — Joy of Missing Out: você decide conscientemente ficar em casa para fazer um chocolate quente com canela de Ceilão, acender uma vela de vetiver e escrever no Caderno de Insights e Conquistas. Há alegria ativa em dizer “não”.
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YAMA — You’re Always Missing Out: você simplesmente aceita a matemática implacável da existência humana finita. Não há rivotril nem planner capaz de encaixar tudo. Então faz-se o que dá — e se vive o que foi escolhido, presente, inteiro.
A YAMA não exige fabricar euforia. É só um lembrete carinhoso: “Ei, ser de carbono, a vida é limitada. Siga o fluxo.”
Colocando a YAMA em prática (versão Cada Vez Melhor)
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Antes de escolher: Respire fundo. Reconheça que, ao dizer “sim” para maratonar “Curtindo a Vida Adoidado” com seus filhos, você está dizendo “não” para a live sobre masalas de Papua Nova Guiné. E tudo bem!
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Durante a experiência: Pintou aquele pensamento-sabotador — “Será que o show do Caetano com a Orquestra Cósmica não seria mais transformador?” — traga a atenção de volta. Faça um mini-scan corporal, estilo mindfulness: pés, mãos, coração. Sinta a cena que de fato está acontecendo.
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Depois: Evite notas de rodapé do tipo “Escolha 6,5 / 10”. Agradeça simples: “Vivenciei este momento singular neste ponto do espaço-tempo. Gratidão.” (Sim, pode parecer hippie, mas funciona.)
Teste variações: às vezes pesquise tudo como bom planner minimalista; em outras, escolha no dado; noutras, deixe seu filho de 3 anos e 10 meses apontar o destino do passeio. Observe como cada método mexe com sua ansiedade (ou serenidade).
YAMA & Tempo: a alquimia da agenda
Quem me acompanha sabe que tempo é o ouro da alquimia cotidiana. Falo disso na Live Sem Limites: Gestão Eficiente do Tempo e no Planner Semanal de Alta Produtividade. Mas nenhum hack de calendário substituirá a verdade brutal: não cabe tudo.
Quando aceitamos essa finitude, a escolha deixa de ser guerra e vira dança. É menos sobre exprimir todo suco possível do limão cronológico e mais sobre saborear o gole que está no copo.
Conclusão (com sabor de masala criativa)
YAMA nos puxa para o centro da roda da vida, como quem diz: “Roda, roda, vira… mas não pira.” Cada sim delimita mil nãos — e isso, longe de ser fracasso, é a arte de viver.
Portanto, da próxima vez que o fantasma da FOMO assombrar sua timeline, convide-o para um chimarrão, apresente-o ao conceito de YAMA e, juntos, digam:
“Estamos sempre perdendo alguma coisa. E daí? Vamos ganhar presença no que escolhemos agora.”
Nos encontramos no próximo artigo, ou talvez num trilho montanhoso em Passa Quatro, ou quem sabe numa sala do Zoom discutindo Gurdjieff. Se você não puder estar lá, sem crise — afinal, YAMA está conosco, lembrando que a vida é vasta, nós somos breves e, ainda assim, isso basta.
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Adaptado por IA da postagem original da newsletter Ness Labs de Anne-Laura Le Cunff: “YAMA: You/re Always Missing Out”