Estamos nos inspirando e contagiando pelo melhor que o humano tem a oferecer?
Esta postagem é a quinta de 13 postagens da série Exercício de Escrita Criativa e Produtividade, que propus em 28 de junho último. Acompanhe todos os artigos, compartilhe – se achar interessante – e comente se houver algo a acrescentar.
Na postagem de hoje, deveria deixar que “Uma grande foto me inspire”. Vamos às correções e ajustes:
- “Hoje”, deveria ser 31 de julho, segunda-feira. Estou publicando este texto em 05 de agosto, sábado. Vida corrida, pois.
- Ao invés de “uma foto”, estou publicando “duas fotos”, transgredindo mais uma vez minhas próprias regras.
- Eu poderia ter escolhido uma magnífica imagem de natureza, um por-do-sol maravilhoso, uma mamãe passarinho dando comida a seus filhotinhos, etc. – mas escolhi essa. Veremos porquê em breve.
- Subverter regras e normas – quando elas não trazem mal às pessoas ou, pelo contrário, podem trazer benefício, é comigo mesmo, então, sem mais delongas, simbora!
Veja as duas fotos abaixo:
Em 8 de novembro de 2016, um buraco de mais de 30 metros apareceu, em uma avenida da cidade de Fukuoka, no Japão. Um vazamento do esgoto pode ter sido a causa inicial. Um vídeo mostrando a expansão do buraco pode ser visto aqui.
Em 2 dias o sistema de esgoto, gás e eletricidade que passava por ali já havia sido consertado e, em seguida, coberto por 6200 metros cúbicos de areia e cimento pelos obstinados e eficientes trabalhadores japoneses. Em uma semana (foto da direita, de 15 de novembro de 2016), a rua já estava liberada para o uso do público.
Ver esta foto e ouvir esta história – bastante real, diga-se de passagem – me impele a uma imediata comparação com as obras realizadas em nossa maltratada terra brasilis. Como motorista, e atualmente fazendo cerca de 3000km por mês a bordo de um automóvel, posso dizer que conheço bem o chão e o asfalto pelo qual tenho passado. Tenho acompanhado várias histórias muito tristes de descaso, como a história da morosidade da duplicação da BR-101 Sul, o a lenga-lenga de meses para o conserto da ponte em Novo Cabrais, e a superlentidão no início do conserto da ponte em Nova Santa Rita, no Rio Grande do Sul, isso sem contar o descaso completo na cobertura asfáltica na região de Agudo e Paraíso do Sul, e nas vias urbanas de Santa Maria, também no Rio Grande do Sul.
Quando vejo o descaso dos órgãos públicos, estatais, governamentais; quando vejo a displiscência e falta de respeito dos executores das obras, a inépcia, o baixo conhecimento, capacidade intelectual e empenho dos operários e seus gerentes penso: em quem temos nos inspirado para viver a vida que vivemos? Estaremos nos inspirando e nos contagiando pelo melhor que o humano tem a oferecer? Ou pelo pior?
Qual das frases temos usado com mais frequência quando vemos algo errado acontecendo?
“Se todo mundo faz assim, porque eu não poderia fazer também”
ou…
“Não é porque eles fazem assim que eu também agirei do mesmo modo.”
E o que temos dito (e feito) quando vemos bons exemplos à nossa frente?
“Puxa! Que impressionante! Curti!”
ou…
“Fantástico! Vamos reunir a galera e fazer também?”
Bem, isso resume um pouquinho de um desânimo que anda me consumindo, de leve, mas cronicamente… Este olhar para fora e para o mundo e ver uma multidão de humanos passivos no que diz respeito a boas ações e prontamente ativos quando diz respeito a praticar atos individualistas, consumir e promover ações em benefício próprio. O cansaço tem batido à porta. Mas não tem jeito não: a gente bate a poeira e usa aqueles exemplos de pessoas íntegras, honestas, dedicadas e ocupadas em criar faíscas e fogueiras criativas, de bondade e generosidade para reanimar nossa própria chama.
Essa duas fotos, ao mesmo tempo em que me entristecem profundamente quando as coloco lado a lado com a sociedade e cultura brasileiras, me enche de esperança pois sei que há, guardada no humano, uma potência fantástica para produzir beleza, solidariedade, sustentabilidade e compaixão.