A Morte é Azul
Nonsense

A Morte é Azul

 

 

Hoje vi a morte de frente, e ela é azul.

Costuma-se dizer no ocidente que, ao morrer, visualiza-se um túnel de luz branca, muito branca, ao final do qual encontraremos as pessoas queridas que nos deixaram antes e que esta seria a “entrada do céu”.

Para aqueles que não se “comportaram direito”, um futuro menos brando parece ser a tônica. Conforme o filme “Ghost – Além da Vida”, a morte do malvado é cercada de trevas e espíritos maléficos que envolvem o corpo do dito cujo e o levam para as profundezas do inferno.

Tudo isso é baboseira. A Morte mesmo, a verdadeira, é azul.

Pela manhã, depois de esperar mais de uma hora em uma fila de automóveis na parte sul da BR-101, gerada por um acidente envolvendo dois caminhões e uma Besta, finalmente começamos a andar.

A Morte é AzulDepois de alguns quilômetros, o fluxo do meu lado da pista estava normal, nenhum carro à frente. Próximo a uma curva para a esquerda, uma seqüência de carros vinha na direção oposta. No momento em que começo a fazer a curva, lá estava ela: azul, grande, violenta, em alta velocidade, tentando ultrapassar a seqüência de carros, na forma de um caminhão. Sem acostamento no trecho em eterna reforma da BR-101, consegui, num infinitesimal instante de tempo que não consigo quantificar, desviar alguns centímetros para a direita no mesmo momento em que a Morte, não se sabe por quais desígnios, desviou para a esquerda, deixando de me encontrar por frações de espaço-tempo.

Tem coisas na vida que são incríveis, não é mesmo? Aberto, fechado. Em cima, embaixo. Dentro, fora. Vivo, morto. Em um momento, flutuamos de um estado para outro e isso é a rotina de todas as cousas. O que estava aberto pode ser fechado e depois aberto novamente. Entretanto, o que vive e morre não revive novamente. É inexorável, dizem.

Por destino, por contingência, por estar atento ao trânsito ou por outro motivo indizível ainda estou aqui. Não antes de saber como é ter o coração na boca, mas estou aqui. E a Morte, que é definitivamente Azul, pela pressa com que ia, aquele a quem ela procurava já deve ter encontrado seu algoz.

 

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