Um olho no Rio da Prata e o outro na Toscana
Enquanto escrevo estas palavras e reflito sobre o ano que passou, ao mesmo tempo em que olho para o futuro, para o ano que se começa hoje, estou sentado confortavelmente em uma poltrona em um escritório de uma casa do século retrasado (final do século XIX) na Durazno 1775, em Montevideo, Uruguai.
Escolhemos virar o ano aqui, desta vez. Porque sim. Pássaros cantam com vigor lá fora, uma rua tranquila, de pouco movimento. Plátanos imponentes crescem e suas folhas verdes e verde-amareladas em vários tons flutuam ao sabor da agradável brisa austral que nos brinda nesta manhã. Os dias aqui tem sido lentos. Lentos e caros. A supervalorização do dólar e do peso, em comparação ao real, torna a vida aqui um pouco pesada para os brasileiros que não tem investimentos ou renda em dólar. Serão somente 8 dias, então sobreviveremos. Chamuscados, mas sobreviveremos.
La Rambla está divina, a cidade está “vazia”, como Porto Alegre nesta época do ano. Os montevideanos fazem êxodo em massa, sobrando alguns poucos turistas brasileiros e alguns locais que se aventuram pelo Mercado del Puerto, pelo Parque Rodó e resolvem jantar no Baco na véspera do Ano Novo.
Por estes dias, decidi arrefecer. Como já havia confessado aqui no ano passado, 2023 tinha sido um ano de aceleração intensa. Imaginei que 2024 pudesse trazer um refresco, mas não foi o que aconteceu. Nunca trabalhei tanto na minha vida. Em 20 de fevereiro, nasceu a Maya e, com ela, novas e intensas responsabilidades. Dois filhos adolescentes, um pequeno de 3 anos e pouco cheíssimo de (boa) energia e uma pequena amada mas com sono bastante irregular, em meio à trabalho, vontade de retomar mais intensamente atividade física – e de fato retomando – em meio a uma agenda que se queria criativa e dedicada aos processos de aperfeiçoamento pessoal se mostraram realmente desafiadores. Mas foram conquistados a contento, principalmente se eu não decidir me julgar pela minha própria régua, que tem um nível bem alto.
Dediquei os últimos dias à família e ao ritmo lento e cuidadoso que eles merecem. Hoje tomamos um café gostoso, fiz ovos mexidos, bacon, tomates cerejas cortados, enrolei presuntos, salame, queijo, tivemos biscoitos amanteigados, de limão e bananas cortadas com doce de leite, pães e uma empanada de carne. Luana fez nosso café e organizou uma mesa em um ambiente bem gostoso aqui da casa em que estamos.
Enquanto faço isso, gostaria genuinamente de dizer que me sinto pleno estando a serviço e ao dispor deles 110%. Mas a verdade não é essa. Minha índole, veu jeito de ser e sentir me faz sentir muita falta do lado criativo, contemplativo, sinto falta imensa das minhas leituras quietas e calmas, dos meus escritos em silêncio, com tempo para pensar, refletir, concatenar e depositar, em palavras o que estou querendo dizer, fazer, construir, compartilhar.
E quero compartilhar aqui algo que escrevi hoje, no meu Diário de Evolução Pessoal:
Hoje quero começar a estabelecer algumas prioridades para o início de 2025, e entre elas estão:
- Fortalecer meus joelhos: ontem, ao acordar, resolvi fazer alguns alongamentos na cama antes de levantar e, no silêncio da manhã, ouvi ambos joelhos crepitarem, como se tivessem areia dentro deles. Foi uma sensação terrível, amedrontadora. Ao mesmo tempo que quero me desafiar a correr mais e mais longe, algo me diz que, desse jeito, vou acabar me machucando feio e limitando até minha capacidade de caminhar no futuro. Vou comunicar isso a meus treinadores Marcos Hallack, Sabrina Schirmer e meu fisioterapeuta Rodrigo Daronch, e marcar nova consulta com meu ortopedista Fabiano Pinho.
- Organizar com mais detalhes um Calendário Editorial para o Cada Vez Melhor – não somente para a Comunidade, mas também para as mídias sociais. Para tanto, preciso ou contratar ajuda para executar ou então liberar tempo para isso. (…)
- Criar espaços de convivência amorosa e de qualidade com minha família próxima, e deixar claro certos limites em relação ao que preciso para ser o homem, pai e provedor que eles esperam/desejam. Quero aproveitar cada momento dos meus filhos pequenos enquanto crescem e estar junto e apoiando meus filhos adolescentes nessa fase tão importante.
Sinto que 2025 pode ser um ano de conquistas importantes. Talvez uma colheita um pouco mais abundante do que em outros anos… É certo que já tive essa percepção em outros momentos, e não se concretizou… Mas gosto de pensar positivamente e manter a chama da esperança acesa e bem viva.
Que esse ano seja de simplificação de processos, minimização de complicações e ampliação de fruição, ao mesmo tempo em que eu possa aprender e evoluir continuamente e tenha sabedoria e capacidade de compartilhar esses aprendizados com as pessoas à medida em que ele chegar a mim. Que eu saiba tornar simples e palatável tudo que eu aprender, e possa verdadeiramente ajudar outras pessoas em seu próprio caminho de crescimento.
Euritmia. Dois passos para frente, um passo para trás. três passos para frente, dois passos para trás. Se, para progredir, é necessário retornar a um ponto anterior, reavaliar, reagrupar, recuperar, fortalecer, planejar para seguir com mais ímpeto, assim será em 2025.
Do cinema, guardo na memória algumas imagens idílicas, bucólicas, pastoris do interior da Toscana, na Itália. Não sei se existe algo ali para mim, nunca visitei com meu corpo aquele torrão. Mas talvez a ideia que envolve aquele espaço, o de paz, tranquilidade, convivialidade, de um ritmo mais lento, humano, sensual, de um relacionar-se com intensidade e de forma genuína, um deixar fluir agradável – que pode, sim, ser encontrado em qualquer lugar do mundo mas que precisa, em primeiro lugar, ser construído dentro de cada um de nós (pois aí será encontrado mais facilmente em quase qualquer lugar) – é o que está na minha mira.
Começando por mim, expandindo para todos os processos ligados a mim. Menos é mais, diria E. F. Schumacher. E simplificar não significa necessariamente retirar a profundidade, a complexidade, a beleza e os detalhes necessários, mas ter sabedoria para discernir o que é supérfluo, o que está sobrecarregando, sobrando em cada interação, fala, criação, ação ou conjunto de ações.
Desejem-me sorte e habilidade na jornada.
E até o próximo ano! Feliz 2025!